Desde segunda-feira (6), diversas reuniões acontecem simultaneamente na Cúpula das Américas, em Los Angeles, com a participação de líderes da sociedade civil, organizações não-governamentais e empresários. A maior expectativa gira em torno do encontro dos chefes de Estado, que tem início nesta quarta-feira (8).

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

A abertura oficial do encontro dos presidentes acontece às 17h no horário local (21h de Brasília) e será realizada pelo presidente americano, Joe Biden. A expectativa é de que ele anuncie uma verba de US$ 300 milhões para combater a insegurança alimentar: a guerra na Ucrânia provocou a disparada dos preços de alguns produtos da cesta básica na região.

Biden deve falar também sobre uma grande reforma do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e também de programas ligados ao meio ambiente e à energia limpa. Dos 35 países das Américas, oito não mandaram seus chefes de Estado e três não foram convidados. Várias delegações já chegaram à cidade e participam da abertura nesta quarta-feira, mas as reuniões de trabalho começam na quinta (9) e vão até sexta-feira (10).

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, não estará presente na cerimônia de abertura. A previsão é de que Bolsonaro chegue aos Estados Unidos na madrugada ou na manhã de quinta-feira (9). Ele deve participar da primeira plenária de quinta-feira à tarde, marcada para às 14h, no horário local. Na sexta-feira, Bolsonaro participa de mais reuniões e deve pronunciar um discurso na Cúpula. Ainda não está confirmado o horário do encontro bilateral que ele terá com o presidente Joe Biden, que deve ocorrer na quinta ou sexta-feira.

Há uma tensão no ar sobre os assuntos que podem entrar na pauta desta reunião, já que Biden recebeu uma carta assinada por 71 organizações, com ativistas pedindo para que o presidente americano se posicione firmemente a favor da democracia, das eleições livres, mudanças climáticas e proteção da Floresta Amazônica. Há também a questão do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, que estão desaparecidos na Amazônia, e que deve entrar na pauta.

Imigração

Nesta terça-feira (7), a vice-presidente Kamala Harris, encarregada do governo Biden para abordar imigração ilegal, anunciou promessas de US$ 1,9 bilhão em investimentos de empresas privadas nos próximos anos, principalmente na América Central.

A intenção é investir localmente e fazer com que as pessoas permaceçam em seus países, em vez de buscar uma vida melhor nos Estados Unidos. A lista de empreendimentos inclui a instalação de fábricas de roupas de marcas americanas famosas, de autopeças, além de estímulos à agricultura. Há ceticismo em torno da eficácia das medidas e se elas inibiriam a imigração ilegal.

Ausências importantes

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, decidiu boicotar a Cúpula em represália à ausência dos chefes de Estado da Venezuela, Cuba e Nicarágua, que não foram convidados. As três nações conhecidas como Triângulo do Norte da América Central (El Salvador, Guatemala e Honduras ) enviaram apenas seus ministros das Relações Exteriores à Cúpula, para demonstrar seu descontentamento.

Os países, juntamente com o México, são a fonte de cerca de 66% da imigração ilegal na fronteira com os EUA. Autoridades da Casa Branca minimizaram o efeito da ausência dos líderes, dizendo que os quatro países enviaram delegações de alto nível e assinarão anúncios conjuntos no fim das reuniões.

O presidente americano, Joe Biden, quer convencer os líderes a ratificar um documento com medidas sobre imigração. O tratado, batizado de Declaração de Los Angeles, deve ser finalizado até sexta (10), isso se houver consenso.

Bolsonaro contesta eleição nos EUA

Um grupo de ativistas está organizando um protesto contra Bolsonaro para a manhã desta quarta-feira, na frente da prefeitura de Los Angeles. Nesta terça (7), às vésperas de encontrar Biden, em uma entrevista ao SBT News, Bolsonaro voltou a lançar dúvidas sobre a legitimidade da eleição americana de 2020. O presidente brasileiro não esconde que é aliado declarado do ex-presidente dos EUA, Donald Trump.

“Olha, quem diz é o povo americano. Não vou entrar em detalhes sobre a soberania de outro país. Agora, o Trump estava muito bem. E muita coisa chegou para a gente, e a gente fica com o pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil. Tem informação dos próprios brasileiros, de que teve gente que votou mais de uma vez”, disse Bolsonaro na entrevista. Após participar da Cúpula, na sexta-feira (10), o presidente brasileiro deve embarcar para a Flórida, onde vai inaugurar um vice-consulado, em Orlando.