Sob muitas críticas e com uma grande chance de ser um fracasso sem resultados práticos, começou nesta segunda-feira (6) a Cúpula das Américas, em Los Angeles. O evento, mesmo antes de acontecer, levantou debates, já que Cuba, Venezuela e Nicarágua não foram convidados e por isso, outros países resolveram boicotar o encontro.

Cleide Klock, correspondente da RFI nos Estados Unidos

A Cúpula já movimenta milhares de pessoas mesmo antes das delegações governamentais chegarem. Nestes primeiros dias acontecem vários encontros paralelos. Por exemplo, nesta segunda (6), na abertura, começaram as reuniões do Fórum da Sociedade Civil, realizado pela Organização dos Estados Americanos. Participam líderes de comunidades, de organizações não-governamentais e atores sociais.

Nesse primeiro dia, líderes indígenas já denunciaram exploração de petróleo na Amazônia Equatoriana e que os direitos dos povos indígenas na região estão sendo violados. Aliás, há grande expectativa para crescer essa discussão sobre a Amazônia e deve respingar muito forte para o Brasil, já que nosso país protagoniza o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Araújo Pereira, na Amazônia, em região de grande tensão onde há invasões de caçadores e madeireiros.

Já nesta terça tem início a Quarta Cúpula dos CEOs das Américas, evento da Câmara de Comércio dos Estados Unidos e na quarta é a vez do Sexto Fórum da Juventude das Américas. Todas essas pessoas vêm para cá para discutir dentro dos seus interesses assuntos que vão acabar também sendo o foco dos presidentes, como recuperação econômica, desafios e oportunidades, imigração, mudança climática, transformação digital e democracia.

Manifestações e boicotes

Ao longo da semana vários protestos estão sendo previstos, principalmente após a chegada dos presidentes. Manifestações sobre as leis de imigração americanas, mas também sobre a situação de El Salvador, onde a violência e a corrupção assolam o país.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, anunciou que realmente não vem, o que torna difícil qualquer debate sobre imigração. Bolívia, Honduras e alguns países caribenhos também não devem comparecer, todos em protesto porque Nicarágua, Venezuela e Cuba não foram convidados. El Salvador ainda não confirmou participação. De qualquer forma, o presidente mexicano se reunirá com Joe Biden, na Casa Branca, em julho,

Mas é bom lembrar que desde o início da Cúpula, em 1994, historicamente, é tradição excluir os países considerados como não-democráticos, os que não têm alternância de poder.

Já o presidente do Uruguai testou positivo para Covid e não pôde embarcar. O presidente Jair Bolsonaro deve chegar na quinta-feira pela manhã, aqui em Los Angeles, e durante o dia e sexta-feira, estão previstos o encontro bilateral com Joe Biden, de pelo menos meia hora, e de acordo com o Itamaraty, também reuniões com outros presidentes.

Reaproximação americana

Os Estados Unidos veem com uma certa urgência a necessidade de se engajarem nos assuntos dos países da região, de se reaproximarem, e acreditam que é muito importante agir intensamente, principalmente por causa da influência da China, que vêm aumentando o poder comercial e ameaçando tirar o protagonismo global exercido pelos Estados Unidos. Durante o governo de Donald Trump, o país ficou muito distante dos vizinhos das Américas. Na última Cúpula, em 2018, Trump nem foi, mandou o vice Mike Pence para representá-lo.

Nesses dois dias de encontros presidenciais, os assuntos devem girar em torno do meio ambiente, imigração e democracia. Já com o Brasil, a expectativa é que Bolsonaro traga para pauta assuntos como o preço dos combustíveis, fertilizantes e até eleições. No contexto de discussões sobre energia limpa, meio ambiente e aquecimento global, o Brasil deve ser cobrado sobre a situação da exploração da Amazônia e agora para intensificar o teor há ainda o desaparecimento do jornalista e do indigenista. Mas, como Joe Biden mandou até emissário para convidar pessoalmente Bolsonaro por causa do esvaziamento da Cúpula, vamos ver se o presidente americano vai garantir apenas um encontro amistoso ou com algum tipo de cobrança.