O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca na manhã de quarta-feira (14) no Egito para uma visita de dois dias. A agenda deve ser mais leve e inclui, caso não haja alguma mudança, uma visita às pirâmides de Gizé, as mais próximas do Cairo. Uma atividade cultural talvez seja incluída, mas na parte da tarde. A ideia é que Lula descanse depois de uma longa viagem e se prepare para os próximos dias, que prometem ser intensos, em reuniões com a Liga Árabe.

Vinícius Assis, correspondente da RFI no Egito

Os principais compromissos de Lula nesta viagem ao Egito ficam para a quinta-feira (15). O presidente tem um encontro com o colega egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi, e depois deve visitar a sede da Liga Árabe, organização formada por cerca de 20 países árabes que ficam no norte do continente africano e no Oriente Médio.

É a segunda visita do presidente Lula ao país. A primeira viagem foi em 2003, em seu primeiro mandato. O Egito é um dos maiores importadores de produtos brasileiros em toda a África, e considerado pelo governo um parceiro-chave do Brasil no continente e também no mundo árabe. Mas esta é uma viagem principalmente com objetivos políticos.

O conflito na Faixa de Gaza, sem dúvida, estará na pauta de assuntos a serem tratados pelos presidentes Lula e Sisi. O governo egípcio, assim como o do Qatar, tem desempenhado um papel de mediador na tentativa de se chegar ao fim deste conflito entre Israel e o Hamas, que já matou quase 30 mil pessoas.

Fronteira do Egito com Gaza

Pela fronteira do Egito com Gaza, o Brasil conseguiu resgatar nos últimos meses mais de 100 brasileiros e familiares palestinos que estavam na zona sob forte ataque israelense desde outubro. O último resgate foi de uma mãe e seus três filhos, na semana passada. A mais nova das crianças nasceu na véspera do Natal, e, por este motivo, a família não havia sido resgatada ainda. Eles são palestinos com nacionalidade brasileira.

Egito distribuidor de produtos brasileiros

Os ataques do grupo Houthis, do Iêmen, a navios que passam pelo Mar Vermelho, ainda preocupam o Egito, inclusive pelo impacto na circulação de embarcações pelo canal do Suez. O grupo iemenita é apoiado pelo Irã e diz que continuará a atacar navios de aliados de Israel até o fim dos conflitos na Faixa de Gaza. Com isso, o governo egípcio quer aumentar o comércio marítimo pelo Mar Mediterrâneo, inclusive com o Brasil. A ideia é que o Egito seja uma espécie de distribuidor de produtos brasileiros para países africanos sem acesso ao mar e também para o Oriente Médio, e ainda se espera que os dois presidentes discutam o início de voos diretos entre o Brasil e o Egito.

100 anos de relações diplomáticas

Lula não será o único governante estrangeiro no Cairo esta semana. Na quarta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, visitará o Egito pela primeira vez desde 2012. Apesar dos fortes laços históricos, religiosos e culturais, as relações entre Egito e Turquia foram alvo de uma crise diplomática que levou o governo egípcio a expulsar o embaixador turco do seu território. No ano passado os dois governos melhoraram as relações ao voltar a nomear embaixadores. A propósito, este ano o Brasil e o Egito comemoram 100 anos de relações diplomáticas.

Assim como a Etiópia, o Egito agora também faz parte do Brics. Os dois países foram convidados para entrar para o bloco no ano passado durante a cúpula na África do Sul, que também integra o grupo, até então, de países chamados emergentes.

Discurso na cúpula da União Africana

Na quarta-feira à noite, Lula deve embarcar para a Etiópia, onde estão agendadas reuniões bilaterais, compromissos que começam já na quinta-feira de manhã. Mas o principal compromisso dele a participação na cúpula da União Africana, onde fará um discurso. A sede da organização fica na capital etíope, Adis Abeba.

Lula deve reforçar sua preocupação com a insegurança alimentar. Assim como a União Europeia, a União Africana agora faz parte do G20, grupo formado ainda por representantes das 19 maiores economias do mundo e que atualmente é presidido pelo Brasil.