O Reino Unido celebra o primeiro ano de reinado de Charles III e o aniversário da morte de Elisabeth II, nesta sexta-feira (8), sem grandes eventos e de maneira discreta. Apesar da crise econômica atravessada pelo país, o balanço dos últimos 12 meses mantém-se positivo para a monarquia, que é vista com bons olhos por 58% da população. Entre os jovens, contudo, o apego à instituição é muito menor, tornando-se um dos maiores desafios do soberano.

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

O último ano foi tudo menos fácil para os britânicos. Em meio a uma crise econômica que não dá trégua, tiveram que aprender a conviver com um novo rei, após mais de sete décadas com a mesma soberana. Charles III completa um ano de reinado no mesmo dia que marca a morte de Elizabeth II — figura ainda muito presente no cotidiano do país.

Para este primeiro ano, não haverá grandes eventos em família, nem celebrações grandiosas. Tampouco um feriado, como muitos imaginavam. O soberano, que, seguindo a tradição, está no Castelo de Balmoral, onde a mãe faleceu um ano atrás, optou por um “momento de reflexão”. Era assim que fazia Elizabeth II nos aniversários de morte do pai, o rei George VI.

Houve e haverá algumas homenagens à ex-monarca, que sempre foi muito mais popular do que seu sucessor. No último sábado, donos de Corgis, a raça dos cachorros da rainha, levaram seus animais de estimação com ornamentos reais para um passeio em torno do Palácio de Buckingham, em Londres. A paixão da monarca por eles era tal que levou um na carruagem de seu casamento com o príncipe Philip.

Elizabeth II presente

Elizabeth II ainda é figura muito presente no país. Nas livrarias, as prateleiras que ostentam livros e revistas com referências a Charles III dividem espaço com as múltiplas publicações sobre Elizabeth II. Os produtos consumidos pela Casa Real sob o comando da ex-monarca ainda expõem com orgulho a chancela que tinham por estar na lista dos preferidos de Elizabeth II.

Mas sua imagem vai desaparecendo da cena cotidiana aos poucos, na medida em que a de Charles III vai preenchendo os espaços. Desde julho, é o nome do rei e não mais o da rainha que aparece nos passaportes britânicos emitidos pelas autoridades locais.

Segundo Buckingham, no momento oportuno será erguido um monumento em homenagem a ela. O soberano está longe de ter a mesma popularidade da mãe. Talvez nunca venha a tê-la, como afirmam alguns especialistas britânicos em realeza. Mas a verdade é que a avaliação geral é de que o rei Charles III está se saindo bem. Nem mesmo os analistas mais otimistas esperavam uma transição tão suave. O rei é visto como alguém mais acessível e tem sido discreto ao tentar ocupar o espaço deixado pela mãe. Talvez por isso, ele prefira se retirar para um momento de reflexão em Balmoral, sem estardalhaços, no dia em que completa seu primeiro ano de reinado. Seu filho, o príncipe William, próximo na linha sucessória, e a mulher Kate devem conduzir uma ou outra homenagem à rainha morta.

Jovens não aprovam monarquia

A última pesquisa de opinião do instituto Yougov mostra que 60% da população acredita que Charles III venha fazendo um bom trabalho, contra 32% que acham que não. Trata-se de um percentual estável. Vale destacar que os integrantes da família real mais populares hoje são William e a mulher Kate, e a princesa Anne, irmã de Charles III. Os três têm entre 72% e 74% de boas avaliações.

Mas o quadro é bem diferente entre a população mais jovem, mais refratária à monarquia e seus símbolos. Apenas cerca de um terço da chamada “geração Z” (com idade entre 18 e 24 anos) acredita que a monarquia seja boa para o Reino Unido. É a mesma proporção daqueles que acreditam que a instituição seja ruim para o país nessa faixa etária. O que veem é um anacronismo de ritos monárquicos apoteóticos como não se testemunhavam há mais de um século, concentrado em uma pequena elite branca. Tudo isso é potencializado pelas mídias sociais.

O apreço pela família Real e a monarquia aumenta com a idade. Quase três quartos das pessoas com mais de 65 anos acham que a instituição vale cada centavo que custa ao país e a vê com bons olhos.

Crise econômica

A crise econômica que o Reino Unido enfrenta há mais de um ano também atrapalha a imagem do novo rei, apesar de ele estar se saído bem também neste quesito, mostrando-se mais próximo das pessoas.

Embora sua cerimônia de coroação, em maio passado, tenha sido apoteótica e os ritos da monarquia pareçam muito distantes da situação de dificuldade da maioria da população, que enfrenta uma disparada do custo de vida, Charles III tenta, na medida do possível, manter-se abaixo do radar.

Uma de suas promessas antes de ser coroado era a de que tentaria modernizar a monarquia, simplificar ritos e diminuir o núcleo de integrantes da família real a serviço do país, o que significaria, na prática, menos custos.

A professora de pesquisas sobre marketing e consumo na Royal Holloway da Universidade de Londres, Pauline MacLaran, disse à RFI que o monarca não quer desestabilizar a instituição com grandes mudanças. A ideia seria fazer uma transição suave entre o reinado da mãe, o mais longo da história do país, e o de seu filho William, para quem ficaria a tarefa de promover mudanças mais profundas.

Para a professora, um dos grandes desafios do rei nesse período será o de agradar o público jovem, mais apático em relação à instituição. “Ele provavelmente vai se apoiar no carisma de William e Kate para cativá-los”, disse.