A justiça espanhola está investigando um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra de máscaras durante a pandemia. Os desdobramentos do escândalo têm provocado turbulências no cenário político espanhol.

Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

O “caso Koldo” é um suposto esquema de corrupção em que teriam sido feitas cobranças ilegais na compra de máscaras de proteção durante a pandemia de Covid-19. As investigações acerca do tema tiveram início a partir de uma denúncia feita por um porta-voz do Partido Popular (PP), opositor do governo socialista, em março de 2022. Os fatos investigados teriam ocorrido em 2020, no auge da pandemia.

A denúncia menciona contratos que, segundo o Ministério Público, poderiam representar uma quantia superior a 50 milhões de euros (R$ 269,6 milhões). Os acordos teriam sido fechados com a empresa Soluciones de Gestión y Apoyo a Empresas SL. Por outro lado, como contratantes, figuram entidades dependentes dos Ministérios de Transportes e do Interior e os governos das Ilhas Baleares e Canárias.

As possíveis irregularidades relacionadas às contratações vão desde a cobrança de comissões por concessão de contrato até o fornecimento de material sanitário diferente do acordado. Mais concretamente, a justiça espanhola está apurando os delitos de organização criminosa, lavagem de dinheiro, suborno e tráfico de influências.

A trama ficou conhecida como “caso Koldo” porque teria sido articulada principalmente por Koldo García, que foi assessor do ex-ministro de Transportes do país, José Luis Ábalos.

O papel de Koldo García

De acordo com as investigações, Koldo García, à época homem de confiança do então ministro de Transportes, seria responsável por intermediar as negociações para compra de máscaras de proteção. Segundo o Ministério Público, o então assessor fazia essa ponte cobrando comissões e abusando do cargo público que ocupava.

Uma das questões que chamaram a atenção do MP espanhol foi o aumento do patrimônio de Koldo e de sua família. A valorização teria sido de cerca de 1,5 milhão de euros (R$ 8 milhões) entre 2020 e 2022.

Além da possível cobrança ilegal de comissões e da suspeita de tráfico de influência, uma grande parte das máscaras compradas da empresa investigada não condizia com as máscaras que figuravam nos contratos e, por isso, os itens não serviam para o uso hospitalar.

Por ser suspeito de articular todo esse esquema de corrupção, Koldo García chegou a ser detido no último dia 21, junto a outras 19 pessoas que podem estar envolvidas na trama. Além do ex-assessor político, estão sendo investigados, por exemplo, familiares dele e empresários que estavam por trás do fornecimento de máscaras.

Repercussão no Parlamento

Além de quem está sendo investigado diretamente, vários outros nomes importantes da política espanhola têm sido afetados pelos desdobramentos relacionados ao caso. Entre os mais relevantes da lista, está o da socialista Francina Armengol, presidenta do Congresso de Deputados da Espanha.

Armengol é a terceira pessoa com mais autoridade na hierarquia do Estado espanhol – ficando atrás apenas do Rei, Felipe VI, e do chefe de Governo, Pedro Sánchez – e tem lidado com uma forte pressão política ao longo destes dias, já que governava as Ilhas Baleares quando a compra de máscaras aconteceu.

O porta-voz do Partido Popular chegou a oficializar um pedido de demissão da líder socialista na última segunda-feira (4), alegando que ela foi uma “colaboradora necessária” para o funcionamento do suposto esquema.

Na terça-feira (5), a presidenta do Congresso dos Deputados compareceu a uma coletiva de imprensa dizendo que não está sendo investigada e que, em todo caso, seria "uma vítima" e não "uma cúmplice" da trama que está sendo investigada.

José Luis Ábalos, que era ministro de Transportes de Pedro Sánchez na época em que foi feita a compra de máscaras e que hoje é deputado, também está sofrendo as consequências do escândalo. Os líderes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) pediram que ele deixasse o cargo de deputado por “responsabilidade política”, já que mantinha uma relação estreita com o principal investigado.

Defendendo sua inocência, Ábalos não deixou o posto de deputado, mas foi suspenso do partido e se une ao chamado grupo misto na câmara baixa. Nesta terça-feira, o Congresso dos Deputados acatou o pedido do próprio PSOE de criação de uma comissão para investigar a contratação de material sanitário pandêmico pelas administrações públicas, começando pelo “caso Koldo”.