Quando duas pessoas me disseram há uns dois anos: “Michelle, você precisa assistir a essa série!”, nomeadamente o Iury e a Isabelle (do Delirium Nerd), precisei levar em consideração, pois confio em suas avaliações em relação às obras do audiovisual. Escolhi o segundo semestre da pandemia para iniciar e, como optei consumir em conta gotas... Continuar Lendo →

Quando duas pessoas me disseram há uns dois anos: “Michelle, você precisa assistir a essa série!”, nomeadamente o Iury e a Isabelle (do Delirium Nerd), precisei levar em consideração, pois confio em suas avaliações em relação às obras do audiovisual. Escolhi o segundo semestre da pandemia para iniciar e, como optei consumir em conta gotas os episódios densos, finalizei somente agora. Ainda continuamos em pandemia. Ok, é meio mórbido escolher uma obra com esse nome em plena crise sanitária que vivemos, mas não há arrependimento, somente apreciação pela oportunidade de acompanhar uma obra tão verossímil e de qualidade indiscutível.

O criador de Six Feet Under – A Sete Palmos, aqui no Brasil – sugeriu que a série é “em última análise, uma afirmação da vida”. Roteirista de filmes como Beleza americana (1999) e Tio Frank (2020), e criador da série True Blood (2008-2014), o americano Alan Ball fez uma história que gira em torno de uma agência funerária dirigida por dois irmãos que, com sua mãe e irmã adolescente, constituem o cerne disfuncional da família Fisher. A série de TV, que foi ao ar entre os anos de 2001 a 2005 pela HBO, é muito mais sobre a arte de viver do que um negócio de família.

“O futuro é só uma maldita ideia que utilizamos para evitar estarmos vivos hoje.”

Brenda

Com temas sobre a morte e o luto, a sexualidade, a maternidade, a religião, a saúde mental, as relações familiares, a história ainda nos é apresentada com toques de realismo mágico: os diálogos das pessoas vivas com as mortas e os sonhos foram recursos narrativos muito eficientes para representar as reflexões internas e devaneios que ocorriam com os personagens.


“O amor não é algo que você sente, é algo que você vive. Se a pessoa com que você está não aceita isso, faça um favor a você mesmo e guarde-o para outra pessoa.”

Importa ainda mencionar alguns destaques, tais como a construção excelente das personagens femininas, tanto das que protagonizam como as secundárias que crescem ao longo das temporadas, e da representação LGBT. Personagens femininas que, a princípio, poderiam ser consideradas planas vão ganhando camadas ao longo do seu desenvolvimento, como a Ruth, Claire e Brenda (interpretadas pelas atrizes Frances Conroy, Lauren Ambrose e Rachel Griffiths, respectivamente). Assim como Vanessa (Justina Machado) e Lisa (Lili Taylor), com seus próprios dramas pessoais.

Ruth e Claire, a relação às vezes complicada entre mãe e filha.

A representação do casal gay, interpretados pelos atores Michael C. Hall e Mathew St. Patrick, não está focada sobre a homossexualidade, e sim sobre suas relações e problemas, o quanto se faz necessário lutar diariamente para tentar sustentar um bem viver.

Keith e David, um dos melhores casais da ficção.

E a trilha sonora incrível vale uma menção também.

A série soube contar sobre um ciclo da vida de forma perfeita, a trama se passa quando um personagem surge na vida da família e quando ele vai embora, simbolizando que na vida existe um fim para quase tudo. Hoje penso que não devemos lamentar pelo fim de uma relação, seja qual tipo for, e sim sermos gratos por ela ter existido.

Perto do final do final da 1ª temporada, uma pessoa em luto pergunta a Nate Fisher (Peter Krause): “Por que as pessoas têm que morrer?”. Sua resposta: “As pessoas têm que morrer para dar valor à vida. Nenhum de nós sabe quanto vai viver. E é por isso que temos que fazer com que cada dia importe.”. É a arte demonstrando que é preciso tornar a vida importante, o quanto ela é preciosa e que devemos incentivar o cuidado com as escolhas de vida.  Mensagem necessária que merece ser vista/revisitada em tempos sombrios.

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