Em meio às recentes declarações do ex-presidente americano Donald Trump, que ameaçou não defender países inadimplentes com gastos de defesa da Otan caso seja eleito, a aliança militar do Atlântico Norte reúne seus ministros da Defesa e anuncia um recorde de gastos militares para este ano.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, acusou o ex-presidente americano Donald Trump de estar minando a credibilidade da aliança militar e anunciou que os aliados europeus irão investir US$ 380 bilhões em defesa este ano, “uma cifra recorde e seis vezes maior do que em 2014”, ressaltou.

Em resposta às provocações de Trump, ele afirmou que 18 dos 31 países que integram a organização devem gastar mais do que os 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa. Em menos de uma semana, esta foi a segunda repreensão de Stoltenberg ao candidato republicano das próximas eleições americanas.

Há dez anos, depois que a Rússia tomou a Criméia da Ucrânia, os ministros da defesa da Otan concordaram em se comprometer com pelo menos 2% do PIB de seus países em gastos militares. Esta semana, a Alemanha confirmou um valor recorde de mais de US$ 70 bilhões para as despesas militares.

Do outro lado do Atlântico, Donald Trump voltou a reagir dizendo que “a Otan tem de pagar suas contas”, já que, “neste momento, estão a pagar uma pequena parte” do que os EUA “pagam pelo desastre na Ucrânia”, garantindo que se o país “tivesse um verdadeiro presidente” isso “nunca” aconteceria, escreveu na rede Social Truth.

Segundo Trump, “as nações europeias quando juntas, têm aproximadamente o mesmo tamanho da economia dos EUA. Eles têm o dinheiro. Paguem!”, concluiu.

Futuro da segurança na Europa

Donald Trump não é o único, entre os ex-presidentes dos EUA, a ter problemas com os parceiros europeus por causa do não pagamento de suas contribuições para a Otan. Porém, a maneira agressiva e nada diplomática de Trump ao abordar questões importantes faz com que o alarme seja sempre acionado.

O que fez a declaração do último sábado se tornar explosiva foi Trump dizer que, caso seja eleito, vai encorajar a Rússia a atacar países da aliança militar. Além da bomba que soltou, o ex-presidente americano colocou em questão a ativação do artigo nº 5 da Otan, que prevê a defesa mútua em caso de ataque a um de seus países membros.

O comentário de Trump assusta e escancara o quão perigoso é o atual contexto geopolítico. O risco da estabilidade europeia enfraquecer aumenta dia a dia. Se tornou arriscado demais contar com os EUA? A Europa deve começar a pensar em um plano B?

A França, única potência nuclear que resta na União Europeia, tem defendido a soberania europeia em matéria de segurança e defesa. O presidente francês, Emmanuel Macron, advoga há anos por uma “autonomia estratégica” da Europa para diminuir a dependência militar dos EUA, mas sem romper com a Otan. Talvez as polêmicas declarações de Trump estimulem a volta sobre este debate no continente.

Quanto mais perto da Rússia, mais gastos militares

Em Bruxelas, os ministros da defesa da Otan devem discutir os preparativos para a próxima cúpula da aliança militar em Washington, no mês de julho. Outros destaques da agenda serão o debate sobre o progresso no aumento e aceleração da produção de munições e a questão do financiamento dos novos planos de defesa da Otan. Um dos projetos nesta área é o Steadfast Defender, que começou no mês passado, e é o maior exercício militar da aliança desde a Guerra Fria, que vai mobilizar 90 mil soldados dos 31 países da organização e da Suécia.

Em 2023, os EUA e os países que fazem fronteira com a Rússia gastaram a maior proporção de seus rendimentos nacionais em Defesa. Como por exemplo a Polônia cujos gastos com defesa passou de 1.9% do PIB em 2014 para 3.9% do PIB no ano passado por causa da guerra na Ucrânia. Há uma tendência clara nos orçamentos dos aliados da Otan: quanto mais próximos da Rússia, maiores os gastos militares.