O premiê Yoshihide Suga ampliou a declaração de estado de emergência cobrindo 11 das 47 províncias japonesas nesta quarta-feira (13). A data marca as 300 mil contaminações desde o início da pandemia.

Juliana Sayuri, correspondente da RFI no Japão

Janeiro começou em alerta no Japão. Tido como modelo no início da pandemia, o país registra agora a maior aceleração de infecções por Covid-19.

O Japão atingiu a marca de 100 mil casos em outubro, 200 mil em 20 de dezembro e ultrapassou os 300 mil contágios nesta quarta-feira (13). Sob pressão, o governo estendeu o novo estado de emergência, antes declarado apenas em Tóquio e outras três regiões. O alerta cobre 11 das 47 províncias japonesas (que concentram 55% da população de 126 milhões de habitantes), até 7 de fevereiro.

No ano passado, o estado de emergência atingiu o país inteiro, de abril ao fim de maio. Desta vez, a medida foi implementada em um contexto diferente: além do crescimento dos diagnósticos diários e do aumento de casos graves e internações por Covid-19 desde dezembro, as autoridades identificaram uma nova variante do vírus Sars-Cov-2 no território japonês, notificada no domingo (10).

A variante foi encontrada nos exames de quatro viajantes vindos do Amazonas que desembarcaram no aeroporto internacional de Tóquio. Entre os passageiros infectados, dois adolescentes e dois adultos, apenas um foi hospitalizado.

Trata-se de um homem na faixa de 40 anos, de nacionalidade não-divulgada até o fechamento desta edição. A variante possui 12 mutações, entre elas a N501Y, que também está presente nas cepas do vírus já identificadas no Reino Unido e na África do Sul. Ela é apontada como fator para o maior potencial de transmissão do vírus porque interage mais com a chamada proteína Spike, que o vírus utiliza para entrar na célula.

Autoridades japonesas estão tentando isolar e analisar a variante, um processo que, segundo um oficial do Ministério da Saúde citado pelo diário The Japan Times, deve demorar. “Para analisar melhor essa variante temos que primeiro isolá-la. Isso poderia durar várias semanas ou vários meses (...), então é difícil neste momento dizer quando poderemos divulgar mais detalhes”, declarou.

No Brasil, a nova variante já está sendo estudada na Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz. Segundo nota técnica, também publicada no dia 13, trata-se de uma linhagem viral presente no Amazonas desde abril, com mutação recente possivelmente ocorrida entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Cientistas brasileiros estão realizando mais testes para verificar se a nova variante, provisoriamente batizada de B.1.1.28 (K417N / E484K / N501Y), é mais contagiosa.

Críticas

Entre variantes virais e variáveis políticas, o estado de emergência foi declarado em Tóquio, Chiba, Kanagawa e Saitama no dia 8. Em Aichi, Fukuoka, Gifu, Hyogo, Osaka, Quioto e Tochigi, no dia 13, após pressões, inclusive de governadores.

O estado de emergência permite aos governos das províncias propor restrições a negócios, limitando, por exemplo, o horário de funcionamento de bares, casas de jogos e outros endereços até as 20h. “[Mas] Covid-19 não tem relógio. É possível se infectar e disseminar a doença a qualquer hora”, alertou a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, ao enfatizar a importância do distanciamento social.

Lockdown não está previsto no país

O estado de emergência também permite às autoridades pedir às pessoas que fiquem o máximo possível em casa – lembrando que lockdown, o confinamento obrigatório, não está previsto no país.

“Declaração de estado de emergência é um recurso poderoso, ancorado na lei, para combater a propagação de infecções, mas também impõe grandes restrições à vida das pessoas. Portanto, é necessária uma decisão muito cuidadosa do governo”, justificou o primeiro-ministro Yoshihide Suga.  

O premiê, cujo índice de aprovação está na casa dos 40%, vem sendo duramente criticado pela resposta frente à pandemia, considerada dispersa e lenta.

Segundo enquete da agência Kyodo News, divulgada no dia 10, 68% se declararam insatisfeitos com a gestão do governo. O motivo mais citado para as críticas foi “falta de liderança” do premiê. Entre os entrevistados, 79,2% disseram que o Executivo demorou para declarar estado de emergência a ponto de ser “tarde demais”.

A 190 dias da data marcada para a abertura da Olimpíada, dia 23 de julho, 35,3% defendem cancelá-la e 44,8% preferem outro adiamento, totalizando 80,1% de não entusiastas dos jogos.

Nos próximos meses, os organizadores olímpicos deverão tomar uma série de decisões acerca – até agora, nas palavras do presidente do comitê organizador, Yoshiro Mori, é “absolutamente impossível” adiar as competições novamente. Dia 25 de março deve se iniciar a contagem regressiva de 121 dias para a Tóquio-2020, com o revezamento da tocha marcado para começar em Fukushima.