Com a perspectiva de que a guerra na Ucrânia não termine tão cedo, líderes da União Europeia se reúnem nesta quinta e sexta-feira (21 e 22) em Bruxelas para discutir como aumentar e financiar o apoio militar à Ucrânia e o reforço da defesa do próprio bloco. A agenda do encontro também inclui outros destaques como a situação no Oriente Médio e a expansão da UE, com a possível entrada da Bósnia-Herzegovina. Novos protestos dos agricultores são aguardados.

 

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Às vésperas do Conselho Europeu, o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell propôs o confisco de € 27 bilhões nos próximos quatro anos dos lucros de ativos russos congelados na Europa que seriam destinados a comprar armas e munições para a Ucrânia.

A ideia não é vender os ativos, mas destinar os rendimentos obtidos com eles a Kiev. Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não poderia haver finalidade melhor para estes fundos do que gastá-los no reforço da defesa da Ucrânia e de toda a Europa. Aliás, enquanto Paris e Berlim rivalizam sobre qual estratégia usar para a Ucrânia, Von der Leyen deve usar a discussão sobre o reforço da defesa para ajudá-la a conseguir um segundo mandato frente ao executivo europeu.

A proposta sobre o uso dos rendimentos dos bens congelados russos será apresentada nesta quinta-feira (21) aos dirigentes europeus. A reação de Moscou foi imediata. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o uso desses recursos representa “uma violação das leis internacionais” e ameaçou as pessoas e governos envolvidos na tomada de tais decisões com longos processos judiciais.

Cerca de 200 bilhões de euros em reservas do Banco Central da Rússia estão congelados no Ocidente, sendo grande parte em moeda estrangeira, ouro e títulos do governo. Durante a reunião, o chanceler alemão, Olaf Scholz deve pedir aos aliados que aumentem o apoio financeiro à Ucrânia. O esforço de Scholz surge após a Alemanha ter aprovado o envio para Kiev de um pacote de € 500 milhões, que inclui o fornecimento de 10 mil munições. Porém, o chanceler alemão tem recusado em fornecer mísseis Taurus à Ucrânia. Com um alcance de 500 quilômetros, eles poderiam atingir alvos em Moscou.

UE quer pausa humanitária imediata em Gaza

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou esta semana que nenhuma pressão internacional impedirá Israel de lançar uma ofensiva em Rafah, cidade no sul do território palestino. Em Bruxelas, os dirigentes europeus devem exigir uma pausa humanitária imediata que conduza a um cessar-fogo sustentável na Faixa de Gaza.

É esperado que os chefes de Estado e governo do bloco apelem para que Israel não avance com sua operação militar para Rafah, onde quase 1.5 milhão de palestinos estão refugiados. Os líderes europeus devem voltar a pedir um acesso humanitário contínuo, rápido, seguro e sem entraves.

Eles também devem reforçar a necessidade de cooperação com os parceiros da região para evitar uma escalada regional. Desde o ataque do Hamas contra Israel em outubro do ano passado, a União Europeia condenou a brutalidade do ataque do Hamas, reconheceu o direito de Israel se defender mas em conformidade com o direito internacional e o direito internacional comunitário e tem manifestado sua profunda preocupação com a deterioração da situação humanitária em Gaza.

Negociações de adesão com a Bósnia-Herzegovina

Os líderes da União Europeia se preparam para abrir as portas da adesão para a Bósnia-Herzegovina, oito anos depois do país ter se candidatado a membro do bloco. As divisões étnicas profundamente enraizadas e os atrasos nas reformas constitucionais, judiciais e eleitorais levaram a um adiamento de vários anos.

Na semana passada, a Comissão Europeia deu finalmente o sinal verde para o início das negociações com Sarajevo. No entanto, para que as negociações comecem, é preciso que a recomendação do executivo europeu seja aprovada pelos 27 líderes do bloco.

Para Bruxelas, com o retorno da guerra ao continente europeu e o aumento da incerteza geopolítica, manter a integração dos Balcãs Ocidentais é também uma questão de segurança e estabilidade no continente. Além da expansão do bloco, o Conselho Europeu deve discutir a resposta da UE às atuais preocupações do setor agrícola. E enquanto os dirigentes não chegam a um consenso sobre a questão, novos protestos dos agricultores prometem agitar as ruas da capital belga.