Há exatos 30 anos, o mundo assistia ao vivo, pela TV, um aperto de mão inédito entre israelenses e palestinos que prometia acabar com o conflito no Oriente Médio. Três décadas depois, a prometida paz não aconteceu como o previsto, mas os Acordos de Oslo foram muito importantes.

Daniela Kresch, correspondente da RFI em Israel

Os Acordos de Oslo foram dois acordos de paz entre israelenses e palestinos firmados nos anos 1990 que levaram o mundo a ter esperança de que o conflito entre os dois povos estava prestes a terminar e que um Estado palestino seria criado ao lado do Estado de Israel. O primeiro desses acordos, chamado de Oslo I, foi firmado em 13 de setembro de 1993, há exatos 30 anos, em Washington DC, a capital americana.

Ao vivo, o mundo testemunhou o icônico aperto de mão entre o ex-primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e o então presidente da Organização para Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, com o então presidente americano, Bill Clinton, que moderou o acordo, no meio dos dois com os braços abertos, como se estivesse "abençoando" o acordo.

A imagem do aperto de mão se tornou imediatamente um símbolo de esperança e de paz. Afinal, se os líderes israelense e palestino poderiam chegar a um acordo depois de décadas de conflito, então tudo seria possível.

Juntamente com Rabin e Arafat, o então chanceler israelense Shimon Peres também recebeu o Prêmio Nobel da Paz daquele ano pelo feito. E, dois anos depois, em 1995, Oslo II, o segundo acordo foi assinado em Taba, no Egito.

O processo que levou aos acordos de paz começou em 1991, com a Conferência de Madri. Em seguida, os termos dos futuros acordos foram elaborados em negociações secretas em Oslo, na Noruega, culminando no histórico dia 13 de setembro de 1993.

Reconhecimento mútuo como prerrogativa

Os acordos previam o reconhecimento de Israel pela OLP e, em contrapartida, o reconhecimento da OLP como representante do povo palestino por Israel. Até então, os palestinos não aceitavam a existência de Israel, país estabelecido em 1948. E os israelenses hesitavam em aceitar a criação da Palestina após mais de quatro décadas de guerras e terrorismo.

Oslo I previa que, após esse reconhecimento mútuo, ambos os lados seriam parceiros na negociação de uma solução justa para o conflito, que levaria, no final do processo, à criação de um Estado palestino independente vivendo lado a lado, em paz, com o Estado de Israel.

Como primeiro passo, o acordo firmado há três décadas criou a Autoridade Nacional Palestina (ANP), responsável pelo governo interino palestino em partes da Cisjordânia e na Faixa de Gaza. O objetivo final seria criar, num período de cinco anos, as bases para a criação do Estado palestino e de um acordo de paz definitivo. Mas 1999 chegou e passou sem que nada disso acontecesse.

Desconfiança e rejeição

Os Acordos de Oslo começaram a desandar assim que foram firmados. Houve muitos motivos para isso. O primeiro foi a falta de confiança entre as partes. Havia uma profunda desconfiança entre israelenses e palestinos que não foi remediada com os acordos. Décadas de conflito e derramamento de sangue criaram uma profunda mágoa e houve rejeição interna entre os dois povos.

Fora isso, os acordos adiaram as discussões sobre algumas das questões mais controversas, como o status de Jerusalém, as fronteiras de um futuro Estado palestino, o destino dos refugiados palestinos e a questão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia.

Mas o que mais pesou foi a violência. Durante o processo de Oslo, ocorreram vários incidentes de violência e terrorismo de ambos os lados e isso corroeu a já frágil confiança entre as partes.

Houve diversos ataques terroristas palestinos contra israelenses nos anos seguintes aos acordos, incentivados por mensagens anti-Israel de Yasser Arafat, o que fortaleceu a direita de Israel, contrária ao processo de paz. E, do lado israelense, o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, em 1995, por um israelense de extrema-direita, levou a um pessimismo generalizado.

Fim anunciado

Em 2000, com a explosão da Segunda Intifada palestina, as negociações de paz acabaram de vez e nunca foram realmente retomadas.

Apesar de tudo, há muita coisa que ainda está em vigor três décadas depois. A Autoridade Nacional Palestina continua existindo e governando a maior parte da Cisjordânia, mesmo que a Faixa de Gaza tenha sido tomada pelo grupo considerado por Israel terrorista Hamas e rejeitado totalmente os acordos.

Também ainda há coordenação entre israelenses e palestinos – pelo menos os da Cisjordânia – em diversas áreas, como segurança e água.

Mas o mais importante é que ainda existe o reconhecimento mútuo da autodeterminação de israelenses e palestinos, mesmo que ainda haja alguma rejeição interna nos dois povos.

A solução de dois Estados para dois Povos, isto é, a criação de um Estado palestino que conviva lado a lado, em paz, com Israel, foi a base dos Acordos de Oslo e continua a ser a base dos esforços internacionais para resolver o conflito entre israelenses e palestinos.