Grande parte do que se sabe hoje sobre o aquecimento global já era conhecido no final dos anos 1970, afirma Luiz Marques, professor aposentado do Departamento de História da Unicamp.


No entanto, o conhecimento científico sobre os mecanismos que provocam o aumento da temperatura do planeta não levou a uma mudança de rumos para mitigar a crise climática que a humanidade vive hoje.


Muito pelo contrário: nas últimas décadas, lembra o historiador, houve uma aceleração do desmatamento, do uso de combustíveis fósseis e de outros processos que, movidos por um capitalismo globalizado que não é capaz de respeitar os limites do planeta, vem emitindo quantidades colossais de gases de efeito estufa na atmosfera.


Ao mesmo tempo, os resultados de convenções internacionais para limitar o aquecimento global são extremamente frustrantes, o que faz com que as ações tomadas nos anos 2020 sejam determinantes para o futuro da vida na Terra e as chances de sobrevivência da humanidade.


Esse é a tese do recém-lançado "O Decênio Decisivo: Propostas para uma Política de Sobrevivência".


Em sua avaliação, esse desafio existencial deve ser enfrentado abandonando o que se entende hoje por realismo: não mais usar o passado como régua do futuro, não mais apostar em mudanças brandas e graduais. Sobreviver em uma era de colapso socioambiental não exige cautela, diz Marques, mas uma redefinição profunda dos fundamentos da economia e da política que regem nossa vida social.


Neste episódio, o autor defende a superação do princípio da soberania nacional absoluta e a subordinação da economia capitalista à dimensão ecológica do planeta. Marques também faz uma avaliação da política ambiental brasileira e das contradições que o governo Lula (PT) terá que enfrentar em relação à Amazônia.

Produção e apresentação: Eduardo Sombini
Edição de som: Raphael Concli

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