Em 1820, um botânico e um zoólogo alemães vieram ao Brasil e levaram para a Europa quase 10 mil plantas e animais. Nessa mesma bagagem, os cientistas alemães levaram duas crianças. A história dessas crianças foi revisitada pela escritora e historiadora Micheliny Verunschk dois séculos depois de seu acontecimento.

No livro “O som do rugido da onça” (Companhia das Letras, 2021), a escritora conta o episódio do sequestro da menina Iñe-e do garoto Juri, que cruzaram o Atlântico, foram exibidos em exposições científicas pela Europa e tiveram um destino trágico.

“O som do rugido da onça” foi vencedor do maior prêmio literário brasileiro, o prêmio Jabuti, em 2022, na categoria Romance Literário. É o primeiro livro de uma série ainda em construção, mas que Micheliny gosta de chamar de “trilogia do mato”. “É uma trilogia que pensa o Brasil a partir desses lugares das violências fundantes do Brasil. A violência colonial, a violência de viés da intolerância, a intolerância religiosa, a intolerância com o corpo do outro, com a existência do outro”, revela a autora.

Para Micheliny, a literatura é um instrumento de criação de mundos, que constrói pontes entre realidades distintas. “Se puder existir alguma função para isso que fazemos, é essa, construir pontes. Construir pontes entre eu e o outro, construir pontes entre mundos, construir pontes entre tempos”, conta.

“Os mundos que me interessam são os mundos do outro. (…) Me interessa a vida de quem sofreu violência do Estado, quem sofreu a violência de gênero, quem sofreu a violência por conta da sua origem”, afirma, sobre o caráter social de suas obras.

Neste episódio do LatitudeCast do especial Pensando na Amazônia pela Literatura, Micheliny Verunschk apresenta o livro “O som do rugido da onça” e revela qual é o papel da literatura voz das histórias da Amazônia.