Antes de tudo, vamos parar de achar que os fandoms nasceram na internet e são formados apenas por adolescentes. Ou você acha que os adultos membros de diversos Conselhos Jedi ao redor do mundo não fazem parte de um fandom? Star Wars, Star Trek e 007, por exemplo, são obras que estão por aí muito... Continuar Lendo →

Antes de tudo, vamos parar de achar que os fandoms nasceram na internet e são formados apenas por adolescentes. Ou você acha que os adultos membros de diversos Conselhos Jedi ao redor do mundo não fazem parte de um fandom? Star Wars, Star Trek e 007, por exemplo, são obras que estão por aí muito antes da internet ser popular e elas possuem fandoms gigantescos que atravessam gerações. Agora me diz, você acredita mesmo que esse povo todo sempre viveu em paz e harmonia?


Eu botei logo essa questão na mesa porque tem gente que culpa a internet por todos os males do mundo, sendo que esses males sempre estiveram por aí, a internet só deu mais visibilidade. Onde tem ser humano tem treta. É fato.


Então, isso quer dizer que fandom é uma praga?


Olha, eu já vi muita gente aí que é fanática por futebol criticando pessoas que são fãs de artistas. Quero entender a coerência, meu amor. O que são as torcidas de futebol senão fandoms? Eu acho que é muito raro uma pessoa que não participe de algum tipo de fandom hoje em dia. Sabe, só porque você não gosta ou não usa essa palavra não quer dizer que você não seja parte de um.


Seja você ativo ou não, se estiver dentro de um grupo de pessoas que ama muito algo ou alguém ao ponto de seguir, discutir, compartilhar, defender, etc, você faz sim parte de um fandom. E não tem nada de vergonhoso nisso, viu. Não importa se você tem 12 ou 80 anos: tá tudo bem, bebê.



Um dos maiores comediantes (e críticos da humanidade) de todos os tempos, George Carlin, uma vez disse: “Pessoas são maravilhosas. Eu amo indivíduos. Eu odeio grupos de pessoas. Eu odeio grupos de pessoas com um propósito em comum.”


Eu entendo ele super bem. Grupos de pessoas podem ser assustadores. Grupos de pessoas podem ser perigosos. Grupos de pessoas podem começar uma ditadura. Grupos de pessoas podem causar guerras. Grupos de pessoas podem sair por aí matando.


Só que nada na vida é tão simples assim.


Eu acho que tenho bastante propriedade pra falar de fandom, já que participei (e participo) de alguns dos maiores fandoms do mundo. Não vem ao caso quais fandoms, o importante aqui é dizer que eu já presenciei praticamente tudo o que você pode presenciar dentro de um fandom. Olha… Nunca subestime o ser humano, ele pode ser medonho ao mesmo tempo que pode ser incrível.


Então, todo fandom é tóxico ou não?


Sim. Eu acredito que todo fandom é tóxico sim. MAS PERAÍ, IRMÃO. A resposta não é tão fácil assim.


A verdade é que seres humanos são tóxicos. Você já foi tóxico em algum momento da sua vida, mesmo que não tenha percebido. Nós fazemos mal uns aos outros, seja com ações ou palavras. Com o tempo, eu fui reparando que nós subestimamos o efeito que temos sobre os outros. Você não acha que aquilo que disse irá afetar tanto o próximo, quando na verdade pode ter destruído o dia/mês/ano/vida dele. É importante reconhecer esse tipo de comportamento para não continuar errando. Quem não repara nisso acaba gerando relacionamentos tóxicos, seja com um cônjuge, com a família, amigos OU dentro de um fandom – olha que coisa.


Eu acho que todo mundo que faz parte de um fandom já deve ter ficado irritado, bravo, triste, revoltado, enojado e pistolado por conta de alguma coisa que outra(s) pessoa(s) tenham feito. Você provavelmente já falou coisas tipo “aff, é esse que dá fama ruim pro fandom” ou “ele nem devia se considerar parte do fandom”.


É algo muito curioso (e assustadoramente comum) como os grupos de pessoas tem uma facilidade para se dividir dentro do próprio grupo. Usando como exemplo um fandom que eu participo, posso dizer que lá dentro existem pessoas que brigam terrivelmente entre si simplesmente porque cada parte shippa um casal diferente. É algo ridículo para se brigar.


O que sempre falta é respeito – e noção. Não tem como existir uma paz perfeita em um grupo de seres humanos, por mais que eles amem algo em comum. Ninguém é igual, por mais que possa parecer que alguns indivíduos saem da mesma fábrica. Cada um vai amar de um jeito diferente, vai priorizar algo diferente, e por aí vai. A questão é saber respeitar e aceitar que isso pode existir dentro de um fandom. Diz aí, o que você ganha indo lá numa fanpage de um outro ship falar mal dele ao invés de focar suas energias em amar o seu ship?



Acorda, menina! Para de perder seu tempo tentando impor o seu gosto nos outros. Daqui a alguns anos, você vai parar pra pensar e vai se achar muito otária por ter brigado por algo tão besta que não muda nada na sua vida. Falo isso por experiência.


Vocês que ficam abatidos por culpa desses membros tóxicos, aprendam a ignorar sempre que puderem, pois esse povo quer atenção. Se virem algo de cunho ilegal e criminoso, aí vocês denunciam. Pensem sempre que o fandom não pode controlar a sua vida. O que importa é o seu amor individual pela tal coisa ou pessoa(s) e o que ele(s) representam para a sua vida. O resto não deve ser levado tão a sério.


Aliás, um recadinho importante para os fandoms de artistas: algo horrível que vocês podem fazer é ir descontar as suas frustrações no próprio ídolo. Eu já presenciei em diversas ocasiões pessoas que se dizem apaixonadas indo lá mandar hate porque as suas expectativas não foram atendidas. Opa lá. Criticar é uma coisa, mandar hate é outra. O fandom tem o dever de criticar, mas ofender de graça é outra história. Vamos parar de achar que o ídolo é um objeto sem sentimentos cujo único propósito da vida é te entreter. Para quem pensa assim, eu sugiro terapia e uma dose diária de empatia.


Então, sim: todo fandom é tóxico. Contudo, todavia, entretanto, essa é só uma parte dele.


O que um fandom tem de bom?


Se vocês soubessem a quantidade de amigos que eu já fiz por conta de fandoms! Aposto que muitos de vocês tem histórias lindas com pessoas queridas graças a fandoms. Um exemplo ótimo: vocês sabiam que o Universo Yin foi criado a partir de um fandom? Pois é.


Falo tranquilamente que participar de fandoms mudou minha vida. O meu melhor amigo, que aturo há mais de 10 anos, eu só conheci porque fazia parte do fandom de Harry Potter, na adolescência.


O fandom atual que participo (o maior do mundo) faz obras de caridade por todo o planeta em nome de seus ídolos. Nós nos unimos para ajudar os outros, fazer campanhas contra bullying, incentivar o amor próprio, entre muitas outras coisas dignas. É algo lindo que eu tenho orgulho de fazer parte.


Para muitos, os fandoms são refúgios.


Não tem como deixar isso de lado em favor de se concentrar na parte tóxica dele. O que nós podemos (e devemos) fazer é compreender que sim, o seu fandom tem um lado tóxico, mas que juntos podemos lutar contra ele. Isso porque, francamente, os problemáticos não são a maioria.


Não brigue quando disserem que o seu fandom é tóxico. Ele realmente é. Só que ele também é muito mais que isso. Passe essa mensagem para quem achar que está imune à toxicidade.


Eu odeio aquelas hashtags de coach “#foco #força #fé”, mas elas podem ser usadas para o seu fandom: foco no que realmente importa para sua vida, força para quem corre do seu lado e fé que o amor pode servir como água sanitária para a parte tóxica.


Acabe com os tóxicos ao usar as plataformas disponíveis para gritar a mensagem importante que o seu ídolo (ou o que quer que seja) queira passar para o mundo. Esmague a toxicidade como barata. Só o próprio fandom pode fazer isso.