Olá querido ouvinte, nesta semana Guilherme Andrade trás mais uma crônica para o Remix. Ao texto da crônica está logo abaixo. Deixe nos comentários sua opinião sobre o assunto, envie suas críticas e mande sugestões sobre novos temas. Esperamos que aproveitem, até a próxima semana. Não esqueça de responder a pesquisa do Papo de Calçada. Bora ouvir!!! Morpheus Outro dia assisti o filme Matrix novamente. A primeira vez que vi era criança, naquela época era um filme de ação com muitos tiros, guerra cybernetca e um terror psicológico que me assustava sem eu saber o exato motivo. Desta vez procurei observar mais a fundo as camadas que o filme tanta alcançar. O personagem Morpheus me chamou muita atenção, principalmente no início do filme. É ele quem explica o mundo que Neo vive e tenta abrir sua mente para o que está por trás de tudo isso. Áudio de Morpheus I. A vida é aquilo que acontece enquanto sonhamos com o futuro, já dizia o poeta. Tudo ao nosso redor faz parte do que somos e da vida que levamos. Erramos ao pensar que somos isolados do mundo, ou que ninguém nota nossa presença. Não tem como passar despercebido, a beleza da vida é a forma orgânica e simultânea que tudo acontece. Nós, meros humanos, temos a tendência de criticar tudo, nada está bom o suficiente, a grama do vizinho é sempre mais verde. “Queria ter nascido na América do Norte, aquilo sim é lugar bom de viver”. Bom ou mal temos um motivo para estarmos exatamente onde estamos, e isso não é papo de determinismo. Para quem não acredita em Deus ou em ordenação divina, basta dar uma chance para a estatística. O universo é infinito, existem infinitas galáxias com inúmeras estrelas. O nosso sistema solar depende apenas de uma estrela, uma fonte de energia que aquece e nos dá a vida. Se há infinitas estrelas, porque a vida se deu exatamente aqui? O caso é que não importa porque nascemos aqui, ou qual o motivo de existir vida. O que interessa é viver, somos uma espécie que sobrevive por um instante insignificante, é uma fração de tempo menor que o menor grão de areia no oceano. E como vivemos tão pouco, porque perdemos tanto tempo planejando o que acontecerá no futuro? A cada dia chego à conclusão que não adianta correr atrás de algo que tem a mínima chance de acontecer, devo sim aproveitar as oportunidades que tenho agora e fazer delas o caminho para um futuro melhor. Aproveitar cada instante é impossível, claro, mas fazer uma pausa diária para checar o andar da carruagem faz bem. Vivemos apenas uma vez, pelo menos é isso que eu acredito, e mesmo que vivêssemos outras vidas, não conheço ninguém que se lembre das passadas. No fim das contas é como se só tivéssemos uma chance de fazer tudo que se deve fazer. Áudio de Morpheus II. Não acredito em determinismo, mesmo que até a teoria de viagem no tempo possua uma linha de pensamento que diz que o tempo é determinista, que tudo que deve acontecer acontecerá. Recuso-me a acreditar nisso, pois seria o fim da razão de viver. Se eu não estiver no controle das minhas ações, por qual motivo devo continuar lutando? Se todo o enredo está escrito, de que vale o esforço para trilhar qualquer jornada? Aqui cai por terra um sentimento que eu tinha quando era pequeno e que talvez muitos tenham. Quando parei para analisar o mundo ao meu redor, descobri que não existe essa de escolhido, de salvador. Não sou ninguém além de mais um na fila do pão. Acredito em Deus e no salvador, mas esse não sou eu. Lá no fundo essa questão sempre me incomodou. Será que vim a essa terra apenas para ser pó no fim das contas? Nem todos viram apenas pó, muitos entram para a história, alcançam os almejados campos dos Elíseos, ou os salões de Valhala. Claro que o estado ótimo seria ter o nome nos livros de história ou nos grandes museus futuros, mas o pequeno ato de fazer a diferença na vida de uma pessoa próxima e ser lembrado por isso já considero um prêmio e um gás a mais para continuar meu caminho. O próprio Jesus de Nazaré, filho de José o carpinteiro, foi apenas um homem que fez o bem por onde passou, abraçou aqueles que não eram abraçados, deu comida aos famintos e consolou quem estava em pranto. Independente de ser cristão ou não, é necessário reconhecer que esse é o homem mais conhecido do mundo. Acredito que nesse planeta existam poucos lugares onde nunca se ouviu seu nome. Fazer o bem sem olhar a quem é um ato de evolução difícil de alcançar. Espero um dia conseguir chegar a esse ponto. Isso não é um sonho, é acreditar que podemos fazer mais do que se espera de nós, pensar no outro como pensamos em nós. Impossível? Áudio de Morpheus III. Fim do Arco 1. Áudio de Morpheus IV. Muito se ouve falar do sistema, mas o sistema não tem rosto nem forma, é uma massa, um coletivo que se protege e rege o ambiente que habita. Muitos animais vivem em bandos, esse é um artifício primitivo para se manter seguro. Um leão que ataca a manada tem grandes chances de se dar mal. O sistema é esse instinto primitivo, é a necessidade de fazer o que é melhor para aqueles que estão juntos com você. O problema é que o sistema não aceita intrusos, um grupo de leões não aceitarão outros felinos em seu bando, mesmo sendo próximos na árvore genética. Temos a dificuldade de aceitar o que é diferente, de ouvir o que não concordamos, criamos conceitos a partir do que não conhecemos e assim nos mantemos conservadoramente seguros. A história nos mostra que o sistema pode ser quebrado, mas para isso é necessário criar outro sistema. No fim o ciclo é vicioso e a roda volta ao mesmo ponto. O saudosismo fará alguns afirmarem que o modo antigo funcionava melhor, que esses que estão ai no poder são corruptos ou corruptores, mas a grave verdade é que não há uma forma absoluta, infalível. Se até o tempo pode ser dobrável, muito mais o macacos racionais vislumbrados com coisas brilhantes. Áudio de Morpheus V. Não passamos de grandes pilhas que, para se recarregar, consomem tudo o que está a sua volta. Somos vagalumes que pensam que brilham para chamar atenção, quando tudo não passa de uma armadilha para sermos capturados e servir de abajur de outro mais forte. Tem um rap que diz que esse sistema é uma maquina de moer pobre. Não apenas os pobres financeiramente, mas também os pobres de espirito e de mente. O sistema quer te controlar, e para isso te deixa acreditar que é uma lua que ilumina a noite, enquanto todos sabem que essa lua só é utilizada como um adereço de reflexo. Somos cultivados, alimentados, treinados e educados para seguir o sistema, para andar ordenadamente, para não fazer barulho, pois o vizinho pode se incomodar. Há quem tenha medo de no fim sermos escravos de máquinas, que os avanços tecnológicos culminem em um apocalipse onde robôs munidos de inteligência artificial escravizem e nos usem para seu bel prazer. Caro amigo que ouve isso, as maquinas não precisam ser inteligentes para isso, já somos escravos delas desde que as maquinas a vapor foram inventadas, somos escravos de nós mesmos, da nossa vaidade, da nossa necessidade de nos sentirmos os donos do mundo. Pergunte-se, o que faria se amanhã não houvesse mais energia elétrica? Ou ainda menos, e se a internet acabasse? O que faria da sua vida se o petróleo chegasse ao fim, até onde sei os carros elétricos não são modelos populares? Qual seria o caos da falta da mínima tecnologia? Somos dependentes da nossa própria criação. Não sabemos evoluir, é como um homem que cuida um tigre, quando pequeno é uma fofura, inofensivo. Quando cresce nada o impede de se voltar contra o próprio cuidador. Links de Acesso: https://papodecalcadapodcast.blogspot.com.br/ https://facebook.com/papocalcada/ https://twitter.com/papocalcada/ https://mixcloud.com/papocalcada/ E-mail: [email protected] Feed do Podcast