Onde está a vossa fé? – este versículo quer nos despertar para reflexão e análise do fundamento da nossa esperança em Cristo.

A pergunta pelo onde da nossa fé deixa claro que a fé não é algo estático, mas algo dinâmico. Tamanho, intensidade e presença são aspectos variáveis da fé:
• A fé pode estar presente (perceptível) ou parecer ausente.
• Ela tem a capacidade de crescer (quando bem tratada e cultivada).
• Mas a fé também corre o risco de diminuir e atrofiar (quando negligenciada ou abandonada).
• Ela pode ser forte ou enfraquecer com as nossas dúvidas.

Acredito que a fé é tão dinâmica, porque ela não é propriedade segura nossa, mas é algo oferecido e confiado a nós que carece do nosso zelo. Justamente por isso, ela enfraquece, diminui ou até some quando abandonada, negligenciada ou sobrecarregada com dúvidas. Quero destacar que – entre estes aspectos que prejudicam a fé – o abandono e a negligência são bem mais perigosos do que a dúvida. A dúvida pode ser vista como um sinal de vida, pois a dúvida comunica com a fé, a questiona. Mas quando a dúvida nos faz desistir da fé e esta comunicação deixa de acontecer, a fé corre o risco de ser abandonada e atrofiar. Por isso, Lutero chama a dúvida de irmã gêmea da fé – enquanto caminham juntas, não tem problema. Essa afirmação de Lutero sempre me consolou e animou bastante, pois tira o peso que só aquela fé forte que não conhece dúvida é válida diante de Deus. Não precisamos ignorar as nossas dúvidas, desligar o nosso intelecto e acreditar cegamente em tudo que se afirma a respeito de Deus. Para nós luteranos é justamente o contrário, acreditamos que o diálogo entre as promessas de Deus e as nossas dúvidas pode até contribuir para o crescimento da nossa fé como uma fé que não é ingênua. No entanto, conviver com as próprias dúvidas e colocá-las em discussão com as promessas de Deus não é tão fácil, quando a gente tem que fazer isto sozinho. Facilmente, as dúvidas se tornam maiores do que a fé, porque não encontramos propostas e respostas convincentes. Acredito que cultivar a fé sem ter que ignorar as dúvidas funciona apenas em comunidade - aonde se tem pessoas para falar sobre as dúvidas e trocar idéias. Com ajuda de pessoas que – quem sabe – também já passaram por momentos de dúvida e aflição, que também já duvidaram da existência ou, pelo menos, da presença de Deus ou que também já duvidaram de valores e opiniões defendidas pela igreja... possamos encontrar respostas e propostas que nos ajudam a continuar pensando e descobrindo as maravilhas que a fé prepara para nós. A meu ver, compreenderemos a grandeza das promessas de Deus na sua plenitude apenas quando convivermos diretamente com Ele no Seu Reino. Enquanto vivemos neste mundo, sempre teremos dúvidas. Mas na medida em que cultivamos a nossa fé – mesmo através do questionamento das dúvidas – podemos ter um gostinho cada vez mais claro e mais saboroso daquilo que nos espera. Não abandonando a nossa fé, cultivando-a através do diálogo com pessoas da comunidade e alimentando-a nos cultos e com uma vida espiritual, podemos transformar o ponto de interrogação da dúvida numa luz em nossa vida. Aceitando o convite à reflexão a partir do versículo bíblico de Lucas, podemos perceber cada vez mais claro que:

A fé está viva e forte na medida em que convivemos com ela, na medida em que falamos sobre ela e sobre nossas dúvidas com pessoas que também cultivam a fé em Deus, ou seja, na medida em que a alimentamos e avivamos através de uma vida espiritual ativa.

P.Matthias Tolsdorf, Pastor da IECLB

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