V-Mail foi uma forma encontrada para reduzir de forma significativa o peso das correspondências na Segunda Guerra.


V-Mail - Como os Aliados compactavam correspondência sem WinRar

Não, o V-Mail não é parente do G-Mail, eles mal se conhecem. Na verdade ele foi uma solução genial criada durante a Segunda Guerra Mundial pela Kodak para resolver vários problemas envolvendo envio de correspondência.

Dica pro Temer: o Correio dos EUA escaneia suas cartas. Ou quase
Polícia chamada para deter sujeito que planejava Guerra Global Termonuclear

As moças do 6888th Central Postal Directory Battalion, que fizeram mágica pra colocar em dia a correspondência na Segunda Guerra. Mais sobre elas aqui (Créditos: National Archives / Domínio Público)


Uma carta (pergunte a seus pais) sozinha não pesa muito, mas quando a correspondência começa a acumular, você acaba com sacas e mais sacas de cartas, coisa que é muito pesada e ocupa um volume considerável.


Volume esse que em tempo de guerra precisava ser usado para transportar cargas mais importantes, como armas, veículos, peças de reposição e cerveja.


Um dos armazéns com correspondência a ser processada, na Inglaterra da Segunda Guerra (Créditos: National Archives / Domínio Público)


O segundo problema é que mesmo passando por censores oficiais, a correspondência entre os EUA e a Europa era cheia de mensagens de espiões. Muitas usavam uma técnica chamada “microponto”, aonde uma imagem, geralmente de várias páginas de texto é reduzida fotograficamente a um ponto de um milímetro, que é colado em alguma parte da carta, passando despercebido da maioria dos censores.


Sim, durante a Segunda Guerra toda correspondência, mesmo cartas pessoais era inspecionada. Só a Inglaterra tinha 10 mil pessoas abrindo lendo e censurando cartas. O objetivo era evitar que informações caíssem na mão do inimigo, como relatos de efeitos de bombardeios e escassez de produtos e matéria-prima.


Um microponto, mas não daquele que dá barato (Créditos: Divulgação)


Além dos micropontos outras técnicas, como tinta invisível também eram usadas, mas o V-Mail era imune a todas elas, mas mesmo assim o problema principal ainda era peso. A correspondência prioritária era enviada de avião, e o espaço era precioso. Como otimizar a quantidade de mensagens enviadas sem passar por todo o esforço necessário para inventar a Internet em 1939?


A solução, originalmente chamada Airgraph, foi criada por um esforço conjunto entre a PanAm, a Imperial Airways, e a Kodak, e embora complicada do ponto de vista de hoje, era genialmente simples:


Créditos: The National WWII Museum


Ao invés de recolher um monte de cartas, e colocar as sacas na prensa do cara do Canal da Prensa Hidráulica, foram criados uns formulários aonde a pessoa escrevia sua carta, manuscrita, totalmente pessoal.


Esse formulário de tamanho padronizado tinha o nome e endereço do destinatário e remetente, então a mensagem inteira era autocontida.


A carta era então encaminhada para os censores, que liam o texto, removiam as partes sensíveis e passavam para a próxima fase: Cada carta era então fotografada em um filme de 16mm.


Equipamento para fotografar os formulários de V-Mail (Créditos: National Archives / Domínio Público)


Ao invés de uma folha de papel, envelope, selo, cuspe, etc, a carta agora era um único fotograma em um rolo de filme. Até 5000 delas cabiam em um simples carretel.


1,1 toneladas de cartas convertidas para filme viravam 20Kg. A redução em volume também era brutal, 37 sacas de correspondência depois de microfilmadas eram reduzidas a uma única saca.


Os ingleses usaram o Airgraph para trocar mensagens com Canadá, África, Burma, Índia, Austrália e vários outros lugares. Os americanos adotaram o formato para o correio militar, principalmente mensagens entre os soldados e seus familiares. De forma bem patriótica, foi batizado de V-Mail, V de Victory, claro.


Uma reprodução de um V-Mail, muito provavelmente falsa, criada para fins de demonstração (Créditos: The National WWII Museum)


As mensagens já impressas, reveladas e prontas pro recorte (Créditos: National Archives / Domínio Público)


O benefício secundário é que os micropontos não sobreviviam ao processo de fotografia, e a tinta invisível também não era transferida. E como a foto impressa com a carta tinha só 60% do tamanho do formulário original, ainda havia uma expressiva economia de papel.


Com o fim da guerra o serviço do V-Mail caiu em desuso, além de ser bem demorado, ainda havia o problema da privacidade, a maioria das pessoas não gostava de ter sua correspondência pessoal aberta e inspecionada, e isso era tolerado em casos raros, tipo “Hitler quer matar todo mundo”. No dia-a -dia, não.


V-Mail - Como os Aliados compactavam correspondência sem WinRar