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Fortnite, Ariana Grande e a construção de um Metaverso
Meio Bit
Portuguese - August 10, 2021 16:30Technology Homepage Download Google Podcasts Overcast Castro Pocket Casts RSS feed
Com show virtual de Ariana Grande, Epic Games quer cimentar Fortnite como hub central de entretenimento, similar ao OASIS de Jogador Nº 1
Fortnite, Ariana Grande e a construção de um Metaverso
A parceria entre Fortnite e a cantora Ariana Grande foi o grande assunto nos últimos dias. A apresentação musical Turnê da Fenda, a segunda de grande escala e a primeira razoavelmente interativa, é mais uma tentativa da Epic Games em demonstrar que seu principal título pode ser muito mais do que um Battle Royale.
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Não é nova a informação de que a desenvolvedora quer construir um Metaverso ao redor de Fortnite, uma espécie de hub central em que os jogadores podem fazer qualquer coisa, desde disputar partidas a interagir de outras formas, como assistir filmes e shows. E os planos para o futuro são ainda mais ambiciosos.
Ariana Grande está pronta para martelar em Fortnite (Crédito: Reprodução/Epic Games)
Muito do mérito da tração conseguida por Fortnite nos últimos tempos, justiça seja feita, veio por conta da pandemia da COVID-19, em que todo mundo se viu forçado a ficar em casa e seguir protocolos de distanciamento social. Diversos setores de entretenimento, de cinemas a apresentações ao vivo, como teatros e shows musicais, foram todos colocados em standby até que a situação melhorasse.
Com isso, muitas empresas aproveitaram a lacuna deixada para criar formas de interação social online, ou para viabilizar o trabalho remoto, como os diversos apps de videoconferência em destaque desde 2020, do Zoom ao Discord e cia. ltda. No mercado de games, o ano de 2020 foi palco de uma explosão de vendas de consoles, PCs gamer e jogos, visto que muita gente procurava algo para passar o tempo.
Mesmo com a escassez de componentes, essa procura anormal por videogames incentivou tanto a Microsoft quanto a Sony a lançarem seus novos consoles, e de fato, as vendas foram muito boas. Logicamente, a Epic Games investiu em Fortnite para não só manter seu público cativo, mas também para atrair outros potenciais consumidores, mesmo aqueles que não curtem jogos de tiro.
Ainda em 2020, o jogo começou a hospedar apresentações das mais variadas, inicialmente através de um telão no mapa normal, e depois com o modo não competitivo Festa Royale. Ali, o jogador poderia assistir curtas animados, acompanhar a Semana do Tubarão, participar de palestras e claro, curtir shows de artistas como Marshmello e Deadmau5, entre outros.
Só que a Epic queria algo diferente, e a oportunidade surgiu quando fechou uma série de apresentações com o rapper Travis Scott. O formato escolhido para a turnê Astronomical não foi um mero vídeo em um telão, e sim uma experiência em que todo o mapa de Fortnite foi convertido em um palco.
Como resultado, o game registrou na ocasião, em abril de 2020, a marca de 12,3 milhões de jogadores simultâneos. Isso foi 13 vezes maior do que os 924 mil que Counter-Strike: Global Offensive havia atingido um mês antes.
Claro que uma apresentação do tipo sai caro e é uma insanidade para programar, assim, a opção de experiências virtuais acabariam limitadas aos poucos artistas dispostos a gastar muito para divulgar sua imagem em Fortnite. E pouca gente hoje no cenário musical tem mais bala na agulha que Ariana Grande.
Com dois Grammys e um Brit Awards, a cantora de 28 anos é a artista com o maior número de execuções via streaming (+90 bilhões de transmissões), a Nº 1 do Spotify E Apple Music, e a solista com o maior número de inscritos no YouTube. Talento à parte, Ariana Grande é uma máquina de fazer dinheiro, e parecia ser uma escolha óbvia para a próxima apresentação musical de alto nível em Fortnite.
Meses atrás, vazamentos indicavam que ela e Lady Gaga seriam as próximas a receberem tratamento VIP da Epic Games, com Ariana em outubro e a segunda em dezembro. Aparentemente e ao menos com a primeira artista, a agenda foi adiantada.
O show foi transmitido em 5 apresentações entre sexta-feira (6) e domingo (8), para permitir que jogadores de todo o mundo pudessem ter acesso durante o dia (lembrando, Fortnite é um game voltado primeiramente para jovens), e foi dividido em duas partes.
A primeira foi mais interativa, trazendo até um combate contra o Rei da Tempestade, chefe de Fortnite: Salve o Mundo, com músicas de Marshmello, Sia e Wolfmother. Após a sessão, Ariana entra em cena e o jogador, assim como no show de Travis Scott, passa a ser apenas um espectador.
Diferente de Scott, que usou a ilha como cenário e a transformou como quis, Ariana Grande puxa os jogadores de Fortnite para seu mundo cheio de glitter, cristais, unicórnios e labirintos gregos a lá M.C. Escher. Ao todo a apresentação soma 12 minutos, as duas sessões somadas.
A Epic Games, de acordo com documentos apresentados no processo contra a Apple, já vem a tempos posicionando Fortnite não como um game, mas como uma "rede social da Geração Z/Millenial". De fato, muitos jovens veem o game como uma plataforma multifunção, para jogar, conversar com amigos, ou se distrair curtindo atrações diversas.
O primeiro "game" a adotar uma aproximação do tipo foi Second Life, que se vendeu como uma rede social no tempo em que o termo nem era tão popular. De fato, a plataforma se comporta ainda hoje como um hub de serviços diversos, e conta com a presença virtual de inúmeras empresas, até mesmo bancos.
No entanto, o que a Epic Games está tentando reproduzir é a experiência do OASIS, o grande ambiente virtual que Ernest Cline descreveu em Jogador Nº 1, o livro que Steven Spielberg levou para os cinemas em 2018.
Na época em que o filme estreou, Fortnite Battle Royale já era bastante popular, mas ainda era encarado como um concorrente cartunesco de PUBG: Battlegrounds, que saiu antes e puxou a onda dos Battle Royales.
A Epic, no entanto, conseguiu cativar mais crianças, adolescentes e jovens adultos com um visual menos realista, uma curva de aprendizado bem menor e a mecânica exclusiva de construção, o que lhe rendeu pontos de originalidade.
Com o tempo Fortnite foi tomando dimensões cada vez maiores, ao ponto de contar com material exclusivo de Star Wars: A Ascensão Skywalker, visto que a transmissão "do além" do imperador Palpatine não foi lançada em nenhum outro lugar.
Fortnite quer ser o OASIS de Jogador Nº 1 a todo custo (Crédito: Reprodução/Amblin Entertainment/Warner Bros. Pictures)
O tal "Metaverso" de Fortnite é uma forma da Epic Games chegar ao que o OASIS é no livro e filme, um ambiente onde os usuários podem fazer de tudo, de jogar a curtir outros conteúdos, ou simplesmente matar o tempo, ainda que não conte com equipamentos avançados de RV... por enquanto.
Este é um dos principais argumentos que a desenvolvedora usa para defender a permanência de Fortnite nas lojas digitais da Apple e do Google, com o direito de operar suas finanças sem pagar nada às mantenedoras das lojas, que poderiam "prejudicar" os esforços em criar um "meio social completo, robusto, em tempo real, tridimensional e com seu próprio sistema econômico, onde as pessoas serão capazes de criar e se envolver em um grande número de experiências compartilhadas".
Mas daí a não querer pagar as taxas e se declarar no direito de usar espaço alugado de graça, são outros quinhentos.