A paralisação afetará a rotina de centenas de milhares de pessoas, causará prejuízos econômicos estimados em mais de 100 milhões de libras (cerca de R$ 630 milhões), além de muita frustração nos fãs de um dos maiores festivais de música do país. Estão previstos três dias de greve: terça (21), quinta-feira (23) e sábado (25).

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

A expectativa é de que apenas 20% dos trens circulem nos dias da greve. Mas o sindicato da categoria já avisou que o movimento terá efeitos sobre o sistema de transportes de massa ao longo de seis dias. Londrinos terão a rotina ainda mais perturbada já que os metrôs da capital também param nesta terça-feira. Os usuários estão sendo aconselhados a trabalhar à distância, em casa.

A paralisação deve impactar o movimento de automóveis nas estradas e gerar congestionamentos nas ruas das principais cidades do país. Muitos britânicos cancelaram consultas médicas, reuniões e todos os tipos de eventos presenciais. Cerca de 250 mil pessoas não devem conseguir chegar ao local de trabalho nesta terça-feira.

As perdas financeiras com a greve dos ferroviários não ajudam a economia de um país que não está conseguindo crescer e que enfrenta uma aguda crise de alta do custo de vida. A mobilização será mais um revés que cairá na conta do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e de seu partido conservador, num momento em que os preços dos combustíveis e de vários outros itens essenciais disparam e pressionam ainda mais o deprimido cenário econômico, que aponta para uma recessão.
Governo não intervém nas negociações
Até agora, o governo não interveio nas negociações. As autoridades alegam que cabe aos sindicatos e às empresas chegar a um acordo. Mas a oposição fala em "catastrófica falha de liderança". Funcionários se queixam das condições de trabalho, da falta de reajustes salariais e de demissões. As empresas alegam que o setor precisa ser modernizado e atribuem ao coronavírus um novo comportamento dos usuários dos transportes coletivos.

A venda de bilhetes de trem teria caído em 62% desde o início da pandemia. Isso porque as pessoas estariam fazendo mais dias de trabalho remoto e usando menos trens e metrôs. No Reino Unido, as passagens são caras e impõem custos altíssimos para os trabalhadores, o que aumenta ainda mais a insatisfação da população com os serviços de trens, privatizados nos anos 1990.

As greves no país não são frequentes. Quando elas ocorrem são pontuais e atingem, principalmente, o sistema de transportes. A paralisação desta semana é a maior desde a era de Margaret Thatcher. A primeira-ministra conservadora, que ficou conhecida como a "Dama de Ferro", conseguiu esvaziar nos anos 1980 a atuação dos sindicatos britânicos. Desde então, a população não enfrenta a mesma pressão sindical vista em outros países europeus, como na França, por exemplo.
Greve afeta festival de artes
Os organizadores do festival de Glastonbury, de 22 a 26 de junho, estão preocupados, pois esta primeira edição desde a pandemia será seriamente prejudicada pela paralisação. O evento acontece desde os anos de 1970 e é um dos mais badalados do país, com apresentações de dança, música, circo, entre outras manifestações artísticas. 

O setor de artes e espetáculos é um dos mais impactados pela epidemia de Covid-19, já que a maioria das performances foi suspensa por conta de sucessivos confinamentos e restrições sanitárias. Só agora os grandes festivais começam a retomar suas atividades. Mais da metade dos trens de Londres para Glastonbury foi cancelada.