Israel emitiu um alerta a nível máximo para que seus cidadãos deixem imediatamente a Turquia devido à possibilidade de ataques terroristas. Segundo o governo, agentes iranianos estariam planejando sequestros ou atentados contra israelenses em Istambul.

Daniela Kresch, correspondente da RFI em Israel 

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Yair Lapid, pediu na segunda-feira (13) que cidadãos israelenses que estejam na Turquia saiam "o mais rápido possível" do país. Segundo Lapid, há "um perigo real e imediato" para os cidadãos de Israel na capital turca, um dos mais populares destinos turísticos para israelenses.

O chanceler afirmou que o governo de Israel participou, nas últimas semanas, de um esforço para salvar vidas israelenses em solo turco. E deu um recado aos turistas israelenses: “Se você planejou um voo para Istambul, cancele. Nenhuma viagem de férias vale a sua vida e a vida de seus entes queridos”.

Um canal de TV israelense informou que vários turistas estão sendo retirados na surdina e subitamente da capital turca. Um casal que estava passeando no centro de Istambul, por exemplo, contou que recebeu um telefonema urgente de agentes de segurança orientando para que saíssem do local imediatamente, arrumassem as malas e se dirigissem para o aeroporto.

Turistas ignoram alerta

O primeiro alerta para possíveis atentados foi emitido em 30 de maio pelo Escritório de Contraterrorismo de Israel. Mas foi elevado ao nível máximo no último domingo (12). Mesmo assim, os 20 voos diários entre Israel e Turquia continuam saindo cheios do aeroporto de Tel Aviv.

Muitos turistas têm preferido ignorar os alertas, até porque não têm como receber indenizações caso cancelem voos em cima da hora. Mas a maioria afirma que tentará não falar hebraico ou ostentar símbolos judaicos ou israelenses nas ruas de Istambul.

As advertências acontecem no contexto do mais recente aumento nas tensões entre Irã e Israel. Os dois países vivem uma espécie de “guerra fria”, mas que tem esquentado. Teerã culpa Israel por uma série de ataques recentes físicos e cibernéticos à sua infraestrutura nuclear e militar no Irã e também na Síria.

Entre esses ataques, por exemplo, estariam as mortes de dois oficiais, um da Guarda Revolucionária e outro do Ministério da Defesa do Irã, ambos vítimas, segundo os iranianos, de envenenamento. Também recentemente, um coronel iraniano foi morto a tiros do lado de sua casa no centro de Teerã. Fora isso, diversas ações de hackers teriam prejudicado sistemas de computador de vários locais do Irã.

Israel não admite nem nega a responsabilidade pelos incidentes, mas autoridades locais têm elevado o tom dos discursos contra ações semelhantes do Irã contra Israel. Em fevereiro passado, por exemplo, os Serviços de Inteligência da Turquia impediram o assassinato do empresário turco-israelense por iranianos em solo turco. 

Há muitos casos de tentativas de hackers iranianos de conseguir se infiltrar em computadores e telefones de autoridades israelenses. Isso sem contar o contínuo desenvolvimento do programa nuclear iraniano e as constantes tentativas de Teerã de contrabandear armas e mísseis para a guerrilha libanesa Hezbollah através da Síria.

Turquia critica recomendação de Israel

O governo turco não está nem um pouco satisfeito com o alerta israelense. O Ministério das Relações Exteriores da Turquia emitiu um comunicado nesta terça-feira (14) em uma resposta indireta a Israel. A chancelaria turca observou que "alguns países" emitiram alertas de viagem, mas afirmou que a Turquia é "um país seguro" e que “continua a lutar contra o terrorismo".

A Turquia é um dos principais destinos de férias dos israelenses pela proximidade, o custo baixo e a beleza do país. Mas o alerta israelense pode liquidar com os planos de verão dos setores turísticos tanto da Turquia quanto de Israel, que viviam um certo êxtase após os dois anos de baixa causados pela pandemia do coronavírus.

No caso dos turcos, que enfrentam uma grave crise econômica e uma inflação galopante, a chegada de turistas de Israel poderia reduzir o baque causado pela guerra na Ucrânia, que afastou os turistas ucranianos e russos. Os turistas israelenses estão longe de ser os mais numerosos, mas quase 160.000 visitaram a Turquia entre janeiro e abril, segundo a Associação de Agentes de Viagens da Turquia.

Aproximação entre Ancara e Tel Aviv

Os acontecimentos certamente atrapalham a tentativa de renovação diplomática entre Israel e Turquia. Os dois países acabam de se recuperar de quase duas décadas de um estranhamento. O líder turco Recep Tayyip Erdogan, no poder desde 2003, nunca escondeu seu desafeto em relação a Israel, que se tornou cada vez mais visível à medida que seu poder crescia. 

Em 2008 e 2016, houve tentativas de normalização que não deram certo. Mas agora, a Turquia teria decidido mudar suas alianças no Oriente Médio. O primeiro sinal disso foi a viagem do presidente de Israel, Isaac Herzog, a Ancara em março deste ano, a primeira desde 2008. No fim de maio, outro precedente aconteceu: uma visita de dois dias do ministro das Relações Exteriores da Turquia a Jerusalém. 

O motivo da reaproximação é a mudança de status de Israel na região promovida pelos Acordos de Abraão, de 2020. Os acordos selaram a normalização entre Israel, Emirados Árabes, Bahrein e Marrocos e levaram a um aquecimento do relacionamento entre Israel e Egito. Israel também desenvolveu laços próximos, nos últimos anos, com Grécia e Chipre. 

De um Estado solitário no Oriente Médio, hoje Israel está cercado de aliados e amigos, apesar do contínuo conflito com os palestinos. O mesmo não se pode dizer da Turquia, envolvida em conflitos nas fronteiras e inimizades com países vizinhos.

Além da busca de parceiros regionais, os turcos querem tentar fazer negócios com Israel, principalmente no campo do gás natural. A ideia seria transportar gás israelense através da Turquia para vender à Europa, assim diminuindo a dependência europeia de gás da Rússia.

O alerta de viagem israelense, no entanto, pode colocar todo esse processo a perder.