Escândalos, eleição local, rebelião de colegas de partido no parlamento, contaminações por Covid-19 em alta, novas e impopulares restrições sanitárias à vista. Tem de tudo na agenda do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, na semana que especialistas apontam como a mais complicada desde que assumiu o governo em dezembro de 2019. O premiê vive mais uma prova de fogo.

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

Não é de hoje, Johnson vem perdendo popularidade e a confiança até mesmo de colegas de dentro do próprio partido por razões que vão desde escândalos de gestão dele e integrantes do governo à condução da crise sanitária no país. Esta semana, o primeiro-ministro terá a sua força política testada em várias frentes.

Na terça-feira (14), enfrentará uma rebelião do partido conservador. Pelo menos 68 deputados já avisaram que votarão contra o pacote de medidas sanitárias anunciado pelo governo na semana passada, que inclui o uso obrigatório de máscara, a volta ao teletrabalho e a cobrança do passaporte da vacina. Embora tenha maioria folgada na Casa, o apoio dos trabalhistas, a oposição, será decisivo para garantir a aprovação.

Outra ameaça deve vir do Norte de Shropshire, que, nesta quinta-feira (15), elege novo deputado para preencher a vaga deixada por Owen Paterson. Ex-ministro e deputado conservador, Paterson caiu depois que a comissão de ética independente do parlamento confirmou que recebeu 100 mil libras, cerca de R$ 740 mil, para defender os interesses de duas empresas junto ao governo. Ele foi suspenso por 30 dias.

Mas Jonhson não só tentou evitar a suspensão como quis mudar às pressas as regras para este tipo de investigação. A pressão foi tal que o premier teve de voltar atrás, criando um constrangimento para os deputados que o apoiaram e uma situação insustentável para Paterson. Teme-se que, em seu lugar, neste que é tido um reduto conservador, seja eleito um deputado liberal-democrata.

Além disso, dois escândalos seguem sob investigação. O primeiro é a reforma conduzida na residência oficial de Johnson no valor de mais de R$ 1 milhão com recursos de doações privadas. O segundo, revelado na semana passada, envolve membros do gabinete do primeiro-ministro, que teriam participado de festas de natal em 2020 quando o resto do país estava sob lockdown, sem poder ver amigos e parentes. Este caso em especial deve ser concluído nos próximos dias.

Como não há eleições gerais no curto prazo, Johnson fica onde está, até segunda ordem. A popularidade do premier está em queda. Duas pesquisas de opinião dão os conservadores atrás dos trabalhistas. E as críticas contra ele e seu governo, segundo especialistas, podem até levar a um voto de desconfiança no parlamento, que, no limite, poderia convocar novas eleições.

O avanço da Covid-19 e a possiblidade de se apertarem ainda mais as medidas só pioram a vida do premier. Ele sabe que novas restrições terão impacto direto sobre a economia e o humor do eleitor.

Confraternizações

Neste domingo, o nível de alerta para contaminações subiu para quatro. Ele varia de um a cinco. O clima era uma mistura de euforia e medo. Em Londres, mal se andava nas principais ruas de comércio. Bares e restaurantes passaram o fim de semana lotados.

Em Winchester, no condado de Hampshire, a principal atração da cidade, a catedral, não podia ser visitada tamanha a quantidade de gente nas ruas para o mercado de natal. O que se diz é que os ingleses aproveitaram os últimos dias para fazer as tradicionais festinhas de confraternização de Natal, enquanto ainda era possível.

O Natal é a data mais festejada no Reino Unido. As pessoas acham que não tiveram Natal no ano passado e, segundo pesquisas de opinião, querem ir à forra este ano. As rádios de todas as tendências tocam músicas natalinas, que é a trilha sonora de quase todos os estabelecimentos, o dia inteiro. Algumas pessoas ouvidas pela RFI em Winchester afirmaram que era preciso aproveitar. Estão cada vez mais convencidas de que o governo vai adotar medidas ainda mais restritivas, e não descartam um lockdown.

A partir desta semana, a Inglaterra volta a adotar o teletrabalho. Johnson está vendo que, com a alta do número de casos, e os primeiros pacientes hospitalizados com ômicron — que pode se tornar a variante dominante no país — terá de apertar mais as restrições.

Em pronunciamento neste domingo (12), ele falou de nova grande onda e avisou que as doses de reforço para adultos, previstas até o final de janeiro, serão antecipadas para final de dezembro. Isso significa o país terá de vacinar cerca de um milhão de pessoas por dia até lá. Será que assim ele vai conseguir evitar outras medidas mais duras? Muitos analistas acham que não.