Em meio à rápida propagação da nova variante ômicron do coronavírus, a Bélgica decide endurecer as medidas anticovid no país e anuncia o fechamento de salas de cinema e teatro – mas vê também crescer uma onda de “desobediência civil”.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

A decisão do governo está sendo posta à prova no pequeno país. Uma onda de “desobediência civil” tem crescido desde o último domingo (26), quando milhares de pessoas ligadas ao mundo cultural belga se manifestaram contra o fechamento obrigatório das salas de espetáculo, cinema e teatro, imposto como medida de precaução contra a nova variante ômicron do coronavírus. Segundo os organizadores, o protesto reuniu quase 15 mil pessoas no centro de Bruxelas.

O endurecimento das medidas anticovid provocou fortes reações, não só do setor artístico, como da ministra francófona da Cultura, Bénédicte Linard. Apesar da ordem de fechamento, os cinemas e teatros, principalmente em Bruxelas, Namur e Liège, decidiram desobedecer as autoridades e permanecem abertos. De acordo com os “resistentes”, a lei é injusta e autoritária. A polícia informou que não pretende fiscalizar para verificar quem não está cumprindo a lei. O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, afirmou que as restrições serão reavaliadas em janeiro.
Queda de braço entre setor cultural e governo
A ministra do Interior da Bélgica, Annelies Verlinden, foi intimada a comparecer no Tribunal de Primeira Instância para suspender a decisão sobre o fechamento dos estabelecimentos culturais, sob a pena de multa de € 100 mil. A queixa foi apresentada pela Sociedade dos Autores e Compositores Dramáticos (SACD), a União dos Produtores Francófonos de Filmes e várias produtoras cinematográficas belgas, que consideram que com as restrições o setor cultural deverá ter um prejuízo de € 40 milhões.

Um estudo recente do Instituto Hermann-Rietschel de Berlim comparou os riscos de contaminação por aerossol em diversos locais públicos e constatou que os teatros, salas de concerto e museus que respeitam as regras sanitárias foram considerados os lugares mais seguros. Em comparação, mesmo com o uso da máscara de proteção, o risco de contaminação dobra nos supermercados, triplica nos escritórios com apenas 20% de ocupação e é multiplicado por seis no ensino fundamental com a presença de apenas metade dos alunos.
Campeã de contaminação na Europa
Com uma das maiores taxas de contaminação na Europa, a Bélgica registrou mais de 2 milhões de casos de Covid-19 desde o início da pandemia – ou seja, um quinto da população do país. Mesmo assim, 25% dos residentes belgas preferem não se vacinar.

Ultimamente, Bruxelas tem sido palco de confrontos violentos entre a polícia e manifestantes que, entre outras razões, não aceitam a obrigatoriedade do passaporte sanitário para entrar em bares e restaurantes. O número de novas infecções, hospitalizações e mortes ligadas ao Covid-19 hoje na Bélgica está em declínio. De acordo com a última pesquisa do Instituto de Saúde Pública Sciensano, as taxas de contaminação são de 53% na região norte de Flandres, 32% na região sul da Valônia e 13% em Bruxelas.

O bioestatístico Geert Molenberghs, professor da KU Leuven, em recente entrevista ao canal flamengo VTM, afirmou que “se essa desaceleração continuar, observaremos a seguir uma alta dos casos”, como está acontecendo nos países vizinhos. O governo belga, que reduziu para quatro meses o intervalo para tomar a dose de reforço do imunizante, tem medidas de contenção como o trabalho remoto parcialmente obrigatório, assim como o uso da máscara de proteção em locais fechados.

Além do fechamento dos cinemas e teatros, o país voltou a restringir o limite de frequentação nas lojas, além de proibir o público em todos os treinos e competições esportivas.