O governo japonês realizou nesta terça-feira (27), o funeral de Estado do ex-primeiro ministro Shinzo Abe, assassinado no último 8 de julho. Líderes e representantes de diversos países participaram da polêmica cerimônia, realizada no Budokan, arena histórica de Tóquio, que costuma sediar grandes eventos.

Tatiana Ávila, especial de Tóquio para a RFI

O evento teve início às 14h pelo horário local (2h em Brasília) e começou com a chegada da viúva do ex-premiê, Akie Abe, que entrou no Budokan carregando uma urna com as cinzas do líder japonês. Ele foi cremado em um funeral privado, poucos dias após a morte.

Cerca de cinco mil pessoas participaram da cerimônia, que durou aproximadamente duas horas e teve a presença de diversos líderes mundiais, como o primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, a vice-presidente norte-americana, Kamalla Harris e o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese.

Discursos de condolências

O primeiro-ministro japonês Fumio Kishida fez um discurso de condolências, seguido por demais integrantes do governo japonês, como o presidente da Câmara dos Deputados, Hiroyuki Hosoda; do Senado, Hidehisa Otsuji, e da Suprema Corte, Saburo Tokura. Um representante do imperador Naruhito também participou da homenagem em nome da família imperial.

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), foi convidado para representar o Brasil junto ao embaixador brasileiro em Tóquio, Octávio Côrtes. Gouvêa Vieira é presidente da sessão brasileira do Wise Group, um grupo empresarial que atua na relação comercial entre os dois países promovendo investimentos japoneses no Brasil. 

“Me coube, junto ao embaixador brasileiro em Tóquio, representar o nosso país porque eu represento o Wise Group, um grupo de alto nível que reúne brasileiros e japoneses, criado há mais de 20 anos, em que se discutem os temas estratégicos e econômicos dos dois países. O primeiro-ministro Abe foi muito parceiro desse empreendimento e participar dessa homenagem é uma forma de valorizar a parceria histórica entre o Japão e o Brasil”, disse à RFI. 

Evento divide opinião dos japoneses

O funeral de Estado gerou muita polêmica e a segurança na capital japonesa foi reforçada na manhã desta terça-feira. Ruas em torno da arena Budokan foram fechadas e estações de trens e metrô foram inspecionadas. Longas filas se formaram por pessoas que deixaram flores próximo ao local, mas, em todo o país também foram registrados protestos ao longo das últimas semanas.

Os gastos com o evento foram estimados em quase US$ 12 milhões.  De acordo com a imprensa japonesa, 60% da população se opôs à realização da cerimônia também por outros motivos que vão além dos custos. 

Alguns consideram que o funeral tende a glorificar um político que tomou decisões controversas, outros acham que a disposição do governo japonês em realizar a homenagem infringe a constituição por não levar em conta a opinião da população. 

Há ainda um terceiro grupo que vê com enorme desconfiança as relações de Abe com a igreja da Unificação, conhecida como seita Moon, relações essas que teriam sido, inclusive, a causa de seu assassinato. O homem acusado de matar Abe disse que a motivação para o crime foram as doações maciças feitas por sua mãe ao grupo religioso, que levaram a família à ruína financeira.

Ainda assim, apesar das polêmicas, Abe foi um líder importante para o país, tendo sido o primeiro-ministro que ficou mais tempo no poder. Ele assumiu o cargo em 2006 por um ano e voltou a ocupar o posto de 2012 a 2020. 

Político nacionalista, Abe ficou conhecido por liderar a estratégia de recuperação econômica em um Japão que enfrentava as consequências do tsunami e do desastre nuclear de Fukushima, em 2011. Ele foi o segundo premiê do período pós-guerra a ser homenageado com um funeral de Estado.