O chefe da inteligência de Israel, o primeiro-ministro do Catar e autoridades egípcias devem se reunir em Doha na segunda-feira (18) para discutir um possível acordo para a crise em Gaza. O Hamas havia respondido às linhas gerais de um entendimento obtido em Paris. Da mesma maneira como tem ocorrido ao longo de todo este tempo, porém, não há garantias de que as partes vão chegar a um acordo. 

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

Uma reunião entre o chefe da Mossad, David Barnea, Mohammed bin Abdelrahman Al-Thani e representantes egípcios “deverá se realizar hoje” na capital do Catar", disse uma fonte a AFP sob condição de anonimato, devido à natureza sensível das discussões.

Os países mediadores - Qatar, Estados Unidos e Egito - não conseguiram até agora chegar a um acordo sobre a troca de reféns detidos em Gaza por prisioneiros palestinos e a um cessar-fogo no território devastado por mais de cinco meses de guerra entre Israel e Hamas.

"Aceitamos que haverá uma retirada parcial da Faixa de Gaza antes de qualquer troca, e após a primeira fase, uma retirada total”, disse um dos líderes do Hamas, Osama Hamdan, nesta segunda-feira. “Durante a primeira fase, haverá uma cessação total das operações militares (...) e 14 dias depois uma retirada (israelense) para o leste da frente salaheddina”, permitindo o regresso dos deslocados a este setor, disse ele em uma entrevista com al-Manar, o canal do movimento islâmico Hezbollah no Líbano.

As discussões, acrescentou, podem levar “alguns dias”.

Após a pressão exercida pelos mediadores, o Hamas havia apresentado a seguinte contraproposta: 

O grupo palestino exige a libertação de 950 prisioneiros. Em troca, o Hamas estaria disposto a libertar 40 reféns israelenses: mulheres, idosos e doentes.

No caso específico das cinco soldadas de Israel sequestradas em Gaza, a exigência é que para cada uma delas, Israel liberte 50 prisioneiros palestinos.

Além disso, o Hamas quer escolher os nomes dos prisioneiros a serem soltos. As demais demandas se mantêm: retorno de todos os palestinos deslocados para o sul da Faixa de Gaza e, após as seis semanas de trégua, o estabelecimento de um cessar-fogo permanente.

Um membro do alto escalão de Israel envolvido nas negociações disse que “este é um acordo muito ruim e, por isso, ele não vai ser concretizado”.

Houve um aumento significativo dos números exigidos pelo Hamas: no mês passado, nas reuniões realizadas em Paris, os chefes dos serviços de Inteligência de Israel, EUA, Egito e o primeiro-ministro do Catar chegaram a linhas gerais que estabeleciam que Israel deveria libertar 400 prisioneiros palestinos, quinze dos quais condenados à prisão perpétua pelo assassinato de israelenses.

Reação de Israel 

As autoridades envolvidas consideram que as diferenças entre as exigências do Hamas e o que Israel pode aceitar ainda são consideráveis. No entanto, a visão em Israel é que a contraproposta do grupo palestino abre espaço para alguma forma de negociação. E essa mudança de postura se deve às pressões internacionais por parte de Egito e do Catar. 

No caso específico do Catar, há uma visão pragmática: o país busca se consolidar como um ator responsável e tem se esforçado para encontrar soluções capazes de interromper a guerra. O líder do Hamas no exterior, Ismail Haniyeh, vive em Doha desde 2017, assim como outros membros do grupo. O Catar chegou a ameaçar expulsá-los caso não se mostrassem disponíveis a negociar. 

Em Israel há duas visões diferentes entre aqueles envolvidos no processo: de um lado, os que acreditam na ideia de flexibilizar posições de forma a aproximar o Hamas de um acordo; de outro, há quem pense exatamente o oposto por considerar que o Hamas não tem interesse real em chegar a um acordo envolvendo a libertação de reféns. Essas duas posições têm estado em permanente disputa nas conversas internas do gabinete de segurança israelense. 

Crise entre Israel e EUA

A pressão norte-americana desde que Israel iniciou a resposta aos ataques de 7 de Outubro é sobre o chamado "dia seguinte". Ou seja, o que Israel pretende fazer na Faixa de Gaza, quem deverá administrar o território e como espera solucionar o conflito com os palestinos de forma mais ampla. 

Até agora, depois de mais de cinco meses de guerra, o governo de Benjamin Netanyahu não conseguiu responder a nenhuma dessas questões. A visão da administração de Joe Biden é a mesma de muitos israelenses: de que Netanyahu não toma qualquer decisão porque teme que isso leve alguns dos nomes mais radicais de sua coalizão a deixar o governo - o que possivelmente levaria a um cenário de novas eleições. 

Assim, depois de críticas de Washington mais diplomáticas, foi a vez do líder da maioria no Senado dos Estados Unidos, o Democrata Chuck Schumer, fazer um discurso forte. Ele disse que Netanyahu é um "obstáculo para a paz" e pediu para o presidente de Israel, Isaac Herzog, convocar novas eleições. 

Chuck Schumer é o judeu norte-americano que ocupa o cargo mais alto no cenário político dos Estados Unidos. Perguntado sobre o pronunciamento do senador, o presidente Joe Biden considerou que ele "fez um bom discurso" e expressou preocupações sérias partilhadas não só por ele, Biden, mas por muitos norte-americanos.

Netanyahu respondeu no domingo, primeiro dia da semana de trabalho em Israel, na abertura da reunião com os ministros. 

"Aos nossos amigos na comunidade internacional eu digo: sua memória é curta? Vocês se esqueceram tão rapidamente do dia 7 de outubro, o massacre mais terrível cometido contra judeus desde o Holocausto? Vocês estão prontos para negar a Israel o direito de se defender contra os monstros do Hamas? Vocês perderam sua consciência moral tão rapidamente?", questionou o primeiro-ministro em mais um capítulo da crise entre os países aliados. 

(Com AFP)