Chefes de Estado e de governo dos países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se reúnem em Vilnius, capital da Lituânia, nesta terça (11) e quarta-feira (12). Os destaques na agenda são a adesão da Ucrânia à aliança militar e o anúncio surpresa sobre o aval da Turquia para a entrada da Suécia no bloco. Esta será a primeira vez que a Finlândia participa de uma reunião como membro da organização.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Em Vilnius, a mensagem que Kiev irá receber é de que a Ucrânia só deverá ser candidata à aliança militar quando a guerra acabar. O presidente americano, Joe Biden, afirmou recentemente que não há unanimidade em trazer a Ucrânia para “a família Otan” neste momento.

“Se a guerra está em andamento, estaremos todos em guerra contra a Rússia se a Ucrânia entrar na Otan agora”, ele explicou. A declaração de Biden foi um balde de água fria para a Ucrânia, que apostava em uma adesão iminente na aliança militar.

Especialistas acreditam que o sinal verde para a Ucrânia somente após o término do conflito pode significar um incentivo para a Rússia continuar esta guerra indefinidamente. Às vésperas da cúpula da Otan, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, realizou uma turnê diplomática para pressionar pela adesão de seu país à organização.

Zelensky, que deve participar da reunião em Vilnius, espera receber garantias de segurança e um sinal consistente sobre a candidatura ucraniana, apesar de a questão não ser consenso entre os países da Otan.

O secretário-geral do grupo, Jens Stoltenberg, que teve seu mandato prorrogado por mais um ano, disse estar “absolutamente certo” de que até o final da semana a Otan mostrará “unidade e uma mensagem forte” sobre a futura adesão da Ucrânia, além de continuar apoiando Kiev com armas, munições e treinamento o tempo que for necessário para combater a invasão russa.

Turquia dá sinal verde para adesão da Suécia

Outro grande destaque da agenda dos líderes da Otan é a adesão da Suécia à aliança, que estava sendo barrada pela Turquia. Nas negociações de segunda-feira à noite, poucas horas antes do início da cúpula, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, finalmente concordou em anular seu veto e recomendar ao parlamento de seu país a aprovação da candidatura da Suécia.

Mais cedo, Erdogan havia condicionado a entrada do país nórdico na Otan ao apoio de Bruxelas para a adesão da Turquia à União Europeia.

Ancara acusa Estocolmo de abrigar o que considera “terroristas curdos” e de recusar extradições. Além disso, a Turquia alega que o governo sueco tem sido cúmplice em protestos anti-islâmicos de extrema direita. Há duas semanas, as autoridades suecas aprovaram um protesto em que uma cópia do Alcorão, o livro sagrado do islã, foi queimado em frente da principal mesquita de Estocolmo. A manifestação coincidiu com a celebração muçulmana de Eid-al-Adha, a festa do sacrifício, que dá sequência à peregrinação à Meca, ponto alto do calendário islâmico.

Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Suécia e sua vizinha Finlândia abandonaram uma política de neutralidade que existia há décadas – ambas se mantiveram neutras durante a 2ª Guerra Mundial e a Guerra Fria – para solicitar adesão à Otan em maio do ano passado. A Finlândia, que faz fronteira com a Rússia, entrou oficialmente para a aliança militar em abril, e pela primeira vez participa de uma reunião de cúpula da organização como país-membro.

Zaporíjia

Os líderes da Otan reunidos em Vilnius estão a apenas 1 mil quilômetros da central nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia, e a segurança do local, que está sob controle russo desde o início do conflito, é alvo de preocupação internacional.

A tensão tem crescido em torno do complexo nuclear, o maior da Europa. No início do mês, Kiev acusou Moscou de ter planos para explodir parte da usina nuclear, e Zelensky mencionou o risco de vazamentos radioativos. As acusações foram desmentidas pela Rússia, que afirmou a intenção da Ucrânia de preparar um ataque à Zaporíjia.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) salientou que a situação nas áreas próximas à central nuclear tem se tornado “cada vez mais imprevisível e potencialmente perigosa”. O Kremlin pediu que Zaporíjia seja prioridade nas discussões em Vilnius. “Afinal, se acontecer alguma coisa, a grande maioria dos membros da aliança estará na zona de impacto direto”, comentou o governo russo.

Enquanto isso, a Polônia quer que a Otan posicione armas nucleares americanas em seu território como reação à instalação das ogivas nucleares russas em Belarus.