Não basta olhar as Jornadas de Junho de 2013 como a origem de sucessivas crises políticas que o Brasil viveu depois delas. Para entender os protestos que explodiram dez anos atrás, é preciso avaliá-los como uma consequência —e analisar as causas que levaram à sua eclosão.

É essa a espinha dorsal do novo livro de Angela Alonso, professora de sociologia de USP e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), que também é colunista Folha.

Alonso é a convidada do Ilustríssima Conversa deste sábado (27).

Em "Treze - A Política de Rua de Lula a Dilma" (Companhia das Letras), ela analisa as transformações que a chegada do PT ao poder provocou na política de rua, com movimentos à esquerda e à direita começando a articular uma crítica ao governo.

Alonso mapeia os grupos que passaram a se organizar e também os principais conflitos que se desenrolavam na sociedade brasileira desde o começo das gestões petistas, de pautas econômicas a questões morais.

A socióloga sustenta que o governo de Dilma Rousseff e analistas políticos falharam em identificar os movimentos de direita nas ruas e reconhecê-los como atores políticos legítimos. Essa dificuldade impediu que esses grupos fossem levados à mesa de negociação e tivessem suas demandas ouvidas

"Como a interpretação dominante é que eram protestos à esquerda, a resposta governamental também foi à esquerda", afirma ela. "Se esses movimentos tivessem sido ouvidos, teria havido a possibilidade de trazer os mais liberais ou conservadores democráticos para o jogo político-institucional de maneira mais efetiva, em vez de ficarem misturados aos movimentos autoritários, que eram minoria. Há ali uma chance perdida de isolar a parte autoritária da rua."

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